Outro conto:

Má vida

Era uma senhora já de uma certa idade. Mas decidiu, apesar das cãs que lhe deviam dar juízo e deviam ser sinónimos de boa conduta, enveredar pela má vida. E com isto não se interprete que se tornou prostituta. Longe disso. Começou, antes, por fazer uns assaltos. Primeiro sem que ninguém notasse, depois, com a experiência e o á-vontade, foi-se tornando menos discreta. Certa bela manhã de Agosto, tendo o Sol brilhado intensa e incessantemente no dia anterior, foi apanhada. Como? Tal foi o á-vontade que o assaltado teve tempo para tudo, até para a apanhar. No entanto, a senhora não se desfez. Continuou na sua, pensando talvez que a sua culpa seria, indulgentemente, levada por água abaixo. Mas, na verdade, assim não foi. Pelo contrário, foi detida, eufemismo que hoje se usa para o que antes era presa ou encarcerada, ou a mais animalesca, enjaulada. Ainda hoje lá se encontra, tanto quanto se nos faz saber. Contente, por ter um tecto onde acabar todos os dias, coisa que já tinha, mas é sempre bom agradarmo-nos com aquilo que temos.
Seria agora hora de dizer "moral da história". Mas como esta conta sobre uma mulher que de moral nada tinha, não me darei ao luxo de profanar um lugar-comum tão perfeito e bem engendrado quanto este. Por isso, deixo na base da vossa reflexão aquilo que isto vos possa ter ajudado, que espero não tinha sido muito, pois seria sinal que não precisam de muita ajuda.


29/04/04
FMS

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