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A mostrar mensagens de 2018

Guilherme e os Duendes

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Decidi escrever um novo conto de Natal. Comecei por libertar aquelas amarras com que, por vezes, tentamos recriar o realismo. Baptizei as personagens com os primeiros nomes que me surgiram e alguns são bem estranhos. Fledik, Yordik, Taldik e Uldrik. Quatro duendes, ajudantes do Pai Natal, que compõem o coro mais bonito que possam imaginar. Neste conto, cantam para Guilherme, o menino que é a estrela da história. A capa, muito mais bonita do que aquela que eu teria idealizado, foi criada pela Filipa Cardoso.  Como o Natal não se faz sem amor ao próximo, decidi oferecer metade do valor de capa para o Instituto Português de Oncologia. Faço uso das novas tecnologias e das suas vantagens. Não há intermediários. Há apenas a vontade de ser lido e de dar. O preço do ebook (livro em formato electrónico) é de 2€, mas o pagamento é decidido pelos leitores. Independentemente do valor que escolheres, apenas 1€ é retido para registo da obra, ISBN e para promover outras actividades rel

Keith Richards e o rock sentimental

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O documentário Keith Richards: Under the Influence da Netflix está recheado de segredos e de positividade. Quem diria que a personagem dura que imaginamos está rodeada de amor e que vê o mundo como um lugar mais cor-de-rosa do que o seu consumo compulsivo de tabaco deixaria perceber. Keith confessa-se às câmeras abertamente. A sua casa deixa de ter segredos, a relação com os restantes Rolling Stones é abordada, mas são sempre os sentimentos a ressaltar. Richards ama o processo criativo. Gosta de ir para estúdio fazer experiências, reutilizar temas, explorar possibilidades. Esta é a massa de que os génios são feitos. Os génios são assim não porque não errem, mas porque sabem errar mais vezes e melhor.  Acabei o documentário comprando o seu álbum de originais, Crosseyed Heart . A voz dura consegue ser melodiosa. Os gritos da sua guitarra são sussurros e afagos. Arriscaria a dizer que está ali um avô guitarrista de que gostaríamos, não fossem os relatos dos episódios com os Roll

Palavra de uma gravata

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Conheço gente boa que cometei erros e cumpriu pena de prisão. Conheço muita gente de fato ou farda que não é boa companhia nem para o cão. Conheço pessoas inteligentes que fumam droga. Conheço vegetarianos que são autênticos imbecis. Conheço escritores a quem custa escrever. Conheço gente que escreve que acha que é escritor. Conheço músicos com carreiras estagnadas que não se sujeitam a nenhum desafio. Conheço músicos de renome que comem frango a tour toda e já fizeram concertos em cima de grades de cerveja. Criticar é sempre mais fácil do que fazer e, quando se faz, a imitação continua a ser a opção para todos aqueles que preferem o facilitismo à originalidade. Os gostos vão para além da atestação da competência. Gostar ou não do que alguém faz é completamente diferente de reconhecer se o que faz é bem feito. Temos ainda a possibilidade de não gostar e não perceber por que razão muitos outros gostam, mas nesse caso, como acima, veremos que há algo que temos de reconh

O perigo de ser um homem heterossexual

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Ser um homem heterossexual está a ficar cada vez mais perigoso. Temos de ter cuidado com as auto-declaradas minorias, cujos membros mais exaltados querem ser respeitados da forma que acham que devem ser respeitados. Digo auto-declaradas pois, apesar de não ter estatísticas suficientes para falar de números sobre a comunidade LGBT, todos sabemos que há mais mulheres do que homens neste planeta. Em caso de dúvida, consultem a definição de minoria. A questão do assédio sexual está por todo o lado como se fosse uma bandeira nacional e as vozes que apregoam este problema transformaram-se num hino de incentivo ao combate à discriminação. Não há uma réstia de misoginia neste texto. Trata-se apenas de uma constatação de princípios. O problema da discriminação existe, tanto nas questões de género como nas raciais, mas tem de ser tratado com a seriedade que exige. O folclore que se criou apenas desvaloriza o papel das minorias e das mulheres quando analisamos os contornos do assunto. 

Surpresa

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O ser humano continua a ser a minha maior surpresa. Talvez pela consciência que vai aumentando com o acumulo de experiências, a maioria das surpresas é negativa. É aprendizagem. E é exactamente isso que faz das excepções positivas a brisa refrescante que tanto procuramos. Há pessoas que confiam. Sem nos conhecerem profundamente percebem-nos. Abrem-se para connosco e abrem o seu espaço para que nós possamos fazer o mesmo. Proporcionam-nos um aconchego que chega a ser quase fora da norma deste mundo maravilhoso (e armadilhado) em que vivemos. O ser humano é capaz de todo o espectro de atitudes. Como animais competitivos que somos é fantástico apreciar a colaboração e a confiança. É sentir que temos muito mais para lá da nossa dimensão puramente física e que se move na nossa psique a necessidade de interagirmos com quem gostamos, procurando gostar de mais gente e, dentro dessa dinâmica, aumentar a intensidade. Somos como pavios de pólvora, por vezes, mas gostamos que as explo

Receita Fascista

A fórmula é sempre muito semelhante. Revê-se na História e é por isso que devemos analisá-la e compará-la. Tudo começa num movimento pequeno ou numa figura menor. Vai-se acrescentando pequenos traços carismáticos e um discurso acutilante, próprio de quem aparentemente sofre com as massas. Aqueles que guardam rancores antigos e se sentem ostracizados e revoltados pela falta de oportunidades começam a ouvir este novo líder, com voz forte, que está a dizer exactamente aquilo que eles querem ouvir e as angústias que eles também gostariam de gritar. Juntam-se uns pós de misticismo. Deus, a Natureza, uma Força, a Fé. É o lado messiânico da fórmula. Afinal, estamos perante um Escolhido, que veio para salvar. Um Libertador.  Depois inicia-se a propaganda. Umas camisas de cores iguais (ora castanhas, ora pretas, ora amarelas), uns panfletos, grandes manifestações populares, marchas.  Para haver mobilização massiva dos crentes há que focar a raiva latente num inimigo público. Po

Métricas

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Ser trabalhador é bom. Ser consistente é óptimo. Cumprir objectivos é sensacional. Mas há perigos nas métricas. Quando estabelecemos aquilo que queremos atingir fazemo-lo de forma fácil. A ideia pode estar já na nossa cabeça, percorrer o nosso inconsciente e a decisão acaba por ser imediata. A colocação em prática é sempre a parte mais difícil. Sabemos que temos de ter força para começar e aumentá-la para manter os nossos padrões. É por isso que nos servimos de métricas. Para escrever um livro podemos definir o número de palavras; para vender um produto definimos o número de vendas que nos dará lucro; para viajar definimos o número de cidades que queremos ver e, nelas, os monumentos que queremos visitar. E se tal não se der? É aí que entra a angústia. A sensação de ter falhado. Não damos espaço para o improviso, para o expontâneo. Não cedemos à novidade e podemos, por isso, perder até algumas das maiores vantagens de sairmos do sítio. Ter métricas não é, por si só, desvan

Somos só isto

É a arte que nos diferencia. É a arte que nos une. Somos mais perfeitos na nossa imperfeição quando nos mesclamos com o fruto daquilo que somos e nos aumentamos pela soma daquilo que nos transcende.  Somos mais verdadeiros, mais nocturnos mas mais solares, mais terrenos e celestes. Somos mais. Repetimos vez após vez o que ouvimos, centramo-nos nos quadrados que nos desenham no crescimento, sobrevivemos com regras que nunca chegaremos a conhecer e, então, chega a arte.  Perde-se o horizonte e as colunatas do ringue em que somos travados e levanta-se um vento forte que desafia as estruturas. Afastamo-nos de nós quanto mais nós nos tornamos. Passamos a ser um eu menos próprio e de uma presença mais distante. Sentimos o vigor do desconhecido na segurança que nos dá sermos inseguros. Choramos, porque o Homem não chora; sorrimos do funeral quotidiano; voamos sem asas, porque foi com as que nos deram que caímos. Renascemos e choramos de novo, festejamos a morte daquele que somos ser.