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A mostrar mensagens de 2012

Na música como na religião só acredita quem quer

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Vivemos na era da técnica. Vivemos na era da especialização máxima do desempenho e dos conhecimentos. O que nos traz até um momento único da história em que recorremos a um médico e ele descarta as suas responsabilidades para outro colega de outra área. Especializado que está num ramo, acabou por desligar-se dos restantes, não se achando suficientemente capaz para desempenhar a sua profissão nesses terrenos. Chegamos também ao momento em que as máquinas substituem o Homem em imensas actividades. Até no âmbito artístico, fundamentalmente na música, existem meios para suplantar lacunas técnicas e deficiências de desempenho. Aqui reside o primeiro paradoxo que vos quero apresentar, pois se por um lado temos que devemos especializar-nos através da formação, por outro temos que através de um subterfúgio tecnológico podemos chegar ao mesmo sítio sem sequer estudarmos uma página. Assim, como na religião, o dogma da formação absoluta esconde o talento e a tecnologia defende os profunda

Será pedir muito?

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A noção de limitação é estranha. Depois da minha queda num dos ciclopercursos - tão cedo, logo após a compra da nova bicicleta - provo o acre sabor da incapacidade de cumprir algumas tarefas. Nada de força nesse braço que se torceu sobre si mesmo, nada de peso, pausa em todas as actividades. Sim, porque todas usam os braços. Para-se com o trabalho, com o ginásio, com os passeios em duas rodas, com a dança e o piano e apenas se mantém a escrita e a leitura, fáceis de manter mesmo com um braço a meio gás. E que tal tocar no delicado assunto de poucas pessoas entenderem que isto dói? Será muito, pedir àqueles que comigo partilham uma formação para estas coisas dirigida que, pelo menos, se poupem à crítica? Será necessário mostrar que, noutras alturas, o mesmo lhes aconteceu ou acontecerá e também se sentirão limitados? Será fácil esquecerem que, noutras alturas, estive lá para colmatar outras ausências? É triste, mas diz muito acerca do momento em que vivemos. Diz muito acerca da cr

Felizmente biciclético!

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Saberá quem me conhece que sou profunda e inigualavelmente eclético. Gosto de tudo e tenho imenso prazer em tudo aquilo que constitua novidade. Um actividade, um filme, um livro, uma música, um som até, tudo pode constituir para mim a origem de uma expressão infantilizada na face, aquela carinha de criança que recebe um caramelo... Sabem qual é o prazer mais recente? Pedalar! Galgar alcatrão por descobrir com os pneus da bicicleta, investir parte do orçamento em material para melhorar a experiência, gozar do vento na cara e sentir as dores do dia anterior, desafiando-as a continuar no dia seguinte até as vencer. Vejam na foto como saio para fazer exercício em duas rodas. Críticos serão aqueles que, por ignorância, não conhecem as imensas vantagens de equipamento adequado. Terei melhorado o meu desempenho em mais de um quarto e o prazer... esse duplicou! Acima de qualquer coisa vale o convívio que temos associado ao exercício, os objectivos nobres, as amizades novas e o prazer de move

Todos podem cozinhar

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Este é o lema de um filmes da era moderna da Disney que mais admiro, Ratatouille. Pude comprovar a realidade do mesmo através da minha primeira experiência séria na cozinha. Segundo os presentes à mesa, nove bem contados, tudo estava apetecível e foi, como pude confirmar no final, consumido até ao último pedaço. Bifes de peru com presunto e salva... Até me cresce a água na boca só de pensar! O mais incrível de tudo é a vontade que me dá de cozinhar, de fazer daquela arte um novo objectivo, um novo hobbie (como se todos os outros fossem poucos), de ler de saber de poder dar a quem nos visita algo trabalhado com afinco pelas nossas mãos e que lhes proporciona um prazer que podemos ver estampado na face. Houve quem repetisse, nada sobrou a não ser os elogios e, no final, como determinada personagem do supracitado filme, o meu ego emproou-se um pouco. Rápido conclui ser apenas um aprendiz de aprendizes, mas soube, agora por experiência, que todos podem cozinhar. Nota: a foto é real e retr

Respeito, por favor!

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Tenho aumentado consideravelmente o exercício físico que faço, não só pelo bem-estar que isso me proporciona, aproveitando um período de férias, como também para ajudar um amigo a perder peso. Para isso, além do treino que faço no ginásio, acompanho-o com a bicicleta e percorremos   a marginal de Gaia, sempre com o tempo e a intensidade controlados. Como se nota facilmente, damos valor a isto. E isso merece respeito! Podendo haver, e há, pessoas que detestem o exercício físico, considerem-nas, desde já, respeitadas por mim. Se não o fazem não serei eu a ir buscá-las a casa, pelo que não perturbo o decorrer de qualquer das suas actividades. Hoje, contudo, descobri, no passadiço da marginal gaiense, que eles não me respeitam da mesma forma, porque existem locais apropriados para caminhar e eles insistem em fazê-lo no local destinado ao exercício que pratico. Daí que a minha impressão fique como a fotografia: propositadamente desfocada. Muito embora existam ciclistas que pedalem pelos pas

A motivação (específica) deste escritor

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Página de «Dois Maços» (2011) Todos os dias são produzidas, com a ajuda nas das nossas sinapses, milhares de ideias brilhantes. Algumas são de tal forma difundidas que, mais tarde, se transformam em produtos ou conceitos de elevado valor económico. Outras passam a salvar vidas ou a gerar sorrisos e felicidade. Todas elas têm criatividade na sua essência. Mas só as que chegam até nós têm motivação. A minha motivação, enquanto escritor e com o percurso que sonho há tanto tempo quanto existo, é criar de uma forma fiel àquilo que mais desejo transmitir. Não me preocupam as acepções de públicos que não escolhem o que considero ser mais importante a nível literário. Há em mim, sem falsa modéstia, senão uma prática, um hábito. Uma carreira até, dado o tangente número plural de títulos, fugindo à singularidade tantas vezes significativa de experiência a prazo. Importam-me os versos bem construídos, as palavras bem alicerçadas... Desprezo, quase sempre, o uso desmedido do cliché e das p

De Indignados a Conformados: um Passo de Hábito ou Cravos à Lei da Bala

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Desde que a crise se instalou definitivamente nos bolsos dos portugueses e que a Europa é abalada constantemente com notícias que deitam por terra as infindáveis excelentes características que nos foram apresentadas acerca do Euro e da vantagem que é possuirmos uma unidade monetária que me questiono acerca daquilo que estamos a fazer para que tudo mude. Só há pouco tempo se percepcionou com nitidez que os portugueses queriam mudar de rumo. Viam-se manifestações em Espanha, na Grécia havia tumultos e em Portugal a mesma serenidade própria de um povo que prefere, enquanto está dentro deste pequeno e tão belo rectângulo, proteger-se antes e expor-se só em caso de anunciada catástrofe. Digo cá dentro, porque sei de fonte segura que não há povo que vença a vontade dos portugueses quando estes se decidem a desafiar as leis da normalidade, quando estes se propõem a vencer a vigorosa parede do destino e, noutro país, trabalham de tal forma que vêm a ser considerados dos povos mais laboriosos

Sobre o fausto de quem sabe mas não lê

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Hoje é um daqueles dias em que acordo assoberbado de cultura. E, no entanto, esta frase contém duas gloriosas mentiras. Primeiro, não acordo. Acabei de trabalhar durante a noite, pelo que, além de não acordar ainda me falta dormir. Além disso, estou a sentir-me atulhado na falta de cultura e não na sua, tão desejada, presença. Não raras vezes, como hoje, tenho o dever de aturar conversas avulsas com rótulo de heresia. Dizem essas vozes não gostar de ler e, por tal motivo, não terem hábitos de leitura. Confusa declaração esta de não gostar de ler. Acaso alguém é capaz de dizer que não gosta de respirar? E, ainda assim, é uma necessidade perfeitamente comparável com a leitura. De que serve, pois, terem aprendido a fazê-lo? Para contribuírem por ordem divina para   a não menos endeusada estatística? Que me atestem que determinado género de publicações, de textos ou   de palavras não são da sua preferência é algo que não me conduz a este estado de revolta. No entanto, o f

Deixa o sótão, amor. Anda ver as máquinas do (nosso) futuro!

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Onde estão todas as expressões de sublimação que procurei tanto tempo? Onde será que se encontram os seixos da calçada em que fui tropeçando? Quero agora revê-los e rir-me um pouco com eles. Onde estão os corpos inúteis, lançados na vala comum do desejo desprovido de sentido, que me trouxeram até ti? Amor, diz-me onde estão os silêncios gritantes que guardei lá atrás? Diz-me onde ficaram as melancólicas noites de balcão… Onde estarão os pares que me ensinaram os passos que agora só sei dançar contigo? E as teclas do piano que agora toco para ouvires? Tudo em ti. E aquelas manhãs em que o travo azedo das noites longas se perpetuava até à hora de voltar a ver o sol pôr-se? Essas são agora corolário de um beijo de acordar ou de uma despedida doce. Afinal, que fizeste às pedras da calçada onde tropecei? Não as quero, mas gostava de saber dessa magia, dessa tua subliminaridade com que fazes sumir o difícil. Se percorro os teus passos, maioritariamente dados aqui, de braço dado, não consigo

Lágrimas selvagens

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Há, entre amigos, laços que não se vêem durante o quotidiano das nossas vidas, preenchidas pelos afazeres que delas fazem parte, mas que acabam por determinar a pessoa que somos. São esses laços que, sendo chamados à razão da sua existência nos momentos determinantes, respondem com um rotundo sim e estão presentes na sua forma mais vincada. Ontem, compareci num local de perda. Uma perda enorme, já anunciada mas sempre imprevista, para um amigo. Nesse momento, após uma longa viagem para proporcionar o apoio devido, obrigatória na minha consciência e que, por isso, poderia até ter de me obrigar a percorrer o dobro da distância, subiu-me a empatia aos olhos e escorreu-me pela cara... No final, aguentando-se como podia com a despedida que lhe marcava a cara de cansaço, ele cumprimentou os outros amigos, sempre sem me ver. Eu já domesticara as minha lágrimas. Porém, quando reparou em mim, presença que ele ainda desconhecia, entregou-se à comoção. A surpresa, aliada à dor que nele habitava,

Obrigado!

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Ol á amigos! Antes de mais, obrigado por estarem desse lado. Ningu é m que queira ter uma exist ê ncia plena pode sobreviver sem a presen ç a da amizade e voc ê s s ã o os respons á veis pela satisfa çã o que sinto quanto a isso. Quero que percebam o quanto é dif í cil agradecer a todos. Gostaria de o fazer individualmente, mas fa ç o-o desta forma tipificada. Assim n ã o h á esquecimentos. No entanto, saibam que os sentimentos que nutro por voc ê s s ã o especialmente individuais. N ã o esqueci os momentos que vivi com cada um de voc ê s, apesar de, por vezes, falhar quanto à minha presen ç a. É por isso que escrever este texto me comove tanto... Chamem-me voc ê s Miguel, Migas, Fernando, Gerva, Escritor, Sucateiro, Saviola, Nandinho, Pensador ou qualquer outra alcunha que tenha marcado a minha passagem na vossa vida, lembrem-se do qu ã o especiais s ã o para mim, mesmo quando pare ç o esquecer-me. Voc ê s est ã o sempre comigo, porque eu trago-vos dentro de mim.

Novo projecto online

As novidades, por vezes, são como as folhas. E, neste caso, esta caiu com a chegada do Outono. Enquanto a produção de um novo livro em formato de papel se processa, há que produzir algo que me aproxime de vocês.  Assim sendo, tenho o prazer de anunciar um novo projecto que consiste num livro online, com um novo capítulo a cada duas semanas e que poderão acompanhar e reler sempre que desejarem da forma mais prática possível e em formato digital. Claro que, pelas pedras da calçada que este caminho representa, novidades surgirão!  Para já, a vossa colaboração é determinante para escolher o género literário que irei versar. Por isso, façam parte desta brincadeira e votem, até uma vez por dia, na poll ( http://poll.pollcode.com/bm6yho ) até dia 30 de Outubro! Até já!

Sevilha

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Por razões alheias à minha vontade inicial, Sevilha foi o destino das minhas férias fora do país. Apesar dessas circunstâncias, acabei por descobrir uma cidade fascinante, com um dialecto muito próprio, embora perceptível, e com uma cultura transversal que mistura o tempo dos Califas com todas as correntes arquitectónicas e artísticas da nossa Europa. Percorri esta cidade a pedalar, muito bem acompanhado, com um olho clínico virado para a escrita lado a lado com outro virado acutilantemente para a fotografia. Que mais se poderia desejar? Foi, aliás, o período de férias mais agradável e mais estranho que passei até hoje. Um bom prenúncio, portanto, para o futuro, onde nos deparamos com mundos estranhos, mas dos quais teremos sempre de espremer o lado positivo. A herança andaluz desta cidade, tremenda e intimamente ligada ao passado árabe e ao futuro conservador de tradições, leva-nos a percorrer caminhos de jardins deslumbrantes, palácios encantados, lagos e praças imponentes... Está, t

Marcha da Afurada 2012 (Prémio José Guimarães, pela Melhor Letra)

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A noite não dura mais Já chegou a alvorada A varina está acordada E o pescador volta ao cais No coração, um passado Um rio mesmo à mão E aquele mar respeitado Que nos dá a tradição   E quando chega o Verão A alegria é o que resta S. Pedro e S. João Deixam a Afurada em festa A sardinha está a assar É hora de festejar O S. João nos trouxe a festa S. Pedro há-de a continuar E em noites como esta Para a tradição honrar Seja bem-vindo à Afurada! Faça o favor de entrar! Nas varandas coloridas O mangerico e seu perfume E as imensas partidas Que trazem o peixe ao lume   A varina e o pescador Na festa, já de mão dada Levam consigo o calor Deste tão belo labor De uma história bem contada Todos vivem com fulgor E todos sentem amor Por esta nossa Afurada! A sardinha está a assar É hora de festejar O S. João nos trouxe a festa S. Pedro há-de a continuar E em noites como esta Para a tradi

Enfermagem: a (des)valorização

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O Dr. Manuel Pizarro, à data Secretário de Estado da Saúde, caracterizou os enfermeiros, numa mesa de um colóquio que tive oportunidade de presenciar, como a "espinha dorsal do Serviço Nacional de Saúde". Não se trata de uma valorização excessiva, trata-se da realidade dado o papel do enfermeiro, a sua presença em número nos hospitais e ainda a mediação que pratica entre as várias disciplinas e respectivos técnicos que se cruzam nos cuidados de saúde. Perante factos tão reveladores da preponderância da Enfermagem, o que levou esta ao descrédito, ao desemprego e ao estatuto social reduzido que hoje, por vezes, lhe conotam? A Lei da Oferta e da Procura. Tempos houve em que os enfermeiros podiam escolher o local onde queriam iniciar a sua carreira, o número de empregos que desejavam acumular, o local para onde gostariam de mudar ao fim de alguns anos de experiência. Chegou a abertura de cursos em catadupa e eis que, a cada ano, são formados entre três a quatro mil enfermeiros, s

Euro 2012

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Já começou a competição mais importante do futebol europeu. Muito se tem comentado acerca dos valores astronómicos despendidos, das opções técnicas questionáveis, da falta de ambição nos últimos amigáveis... Muito se poderia questionar, mas o apoio é determinante. As críticas podem surgir, mas o desejo de vitória tem de se manter, sob risco desses dedos apontados não serem mais do que um símbolo da facilidade com que hoje se fala de tudo dum modo pejorativo. A esta hora, já Portugal saiu derrotado do jogo com a Alemanha. Mesmo há pouco... Infelicidades, inseguranças, falta de sorte... Poderão ser usadas inúmeras justificações. Mas não é preciso... Portugal é uma selecção temida, uma selecção com bons praticantes de futebol e discute de igual para igual com verdadeiros portentos históricos do mundo da bola. Da minha parte, gostei de ver a garra de João Pereira, o refrescante Varela, um Cristiano Ronaldo distribuidor e o equilíbrio de toda uma equipa recheada de ambição e vontade de ir l

Liberdade intermitente

O Governo chinês era, outrora, aparentemente mais fechado. Puramente comunista, proibia a disseminação de produtos capitalistas como a Coca-Cola. Agora, passados alguns anos, a McDonald's está presente em Pequim e a Cidade Proibida viu ser fechado o Starbucks Coffee que lá fazia negócio. Encerrou após protesto da população, mas esteve lá. A propósito dos 23 anos dos protestos na Praça de Tiananmen, muitos chineses enfrentam a censura de não poderem consultar páginas sobre o assunto na Internet, uma vez que os motores de busca se encontram a ser controlados pelo Governo. Tiananmen "desaparece" da Internet (Jornal Sol) Todos sabemos que a China é um portento de força e que poucos serão capaz de lhe fazer frente. Mas não será um pouco demais existir um país que pratica uma liberdade intermitente? Claro que, por mais que o Governo chinês tente apagar a memória dos cidadãos acerca do massacre do dia dos protestos, que o mesmo nega, o povo lembra sempre aquilo que tentam fazê-l

O circo da Selecção Nacional

Manuel José, treinador de futebol com uma longa carreira e cuja última experiência o recheou de títulos, teceu duras críticas à nossa Selecção. Mais não fez, no fundo, do que verbalizar as ideias da maioria dos portugueses, que sentem na pele a frustração de anos a ver promessas sem concretizações. Assim se passou com todas as gerações futebolísticas. Todas elas foram polémicas, todas elas promissoras e todas desprovidas de palmarés. Manuel José refere-se à falta de profissionalismo que rodeia a equipa de todos os portugueses como um "autêntico circo", pela sequência de festas que levam à distracção dos jogadores. Será que a Selecção que mais dinheiro dispende precisa de mais distracções? Será que o ambiente é mais de folga do que de responsabilidade? Será que por detrás daquela face sisuda de Paulo Bento temos um treinador fraco e que não se consegue impor? Aconteça o que acontecer, Portugal já começou mal. Mesmo que a vitória nos seguisse até ao final do torneio, mesmo que

Metropolitano

Escrevo em movimento. A cada dia que passa percorro este caminho, neste exacto meio de transporte urbano que é o metro. Desde a sua criação que o metro mudou a cidade. Mais virada para o futuro, mais atenta aos turistas, mais fácil para os trabalhadores, o Porto é, por tudo e também por ter metropolitano de superfície, uma metrópole cosmopolita. Não será difícil perceber porquê. Já se torna complicado perceber a sua estrutura interna, as derrapagens financeiras, a falta de planeamento eficaz. Porque temos todos de fazer escala na Trindade? É contraproducente em relação à concepção de um meio de transporte deste género. Em cidades equiparadas, o metro possui linhas que se cruzam, que se tocam e que têm, ainda assim, destinos completamente distintos. Essas servem na perfeição os habitantes dessa cidade. Coloca-se, por isso, a questão: terá o metro sido criado pela necessidade urgente de não ficar atrás do conceito de cidade moderna? Terá como público alvo apenas os visitantes, esses mesm

Relvas, Carvalho, César e sua mulher

As relações alegadamente ténues entre Miguel Relvas e Jorge Silva Carvalho têm vindo a parecer mais estreitas no desenrolar de todo o processo e à luz de novos dados que vão sendo difundidos. Mensagens telefónicas e reuniões de negócios (como agora noticia o JN nesta página ) não me parecem - nem a ninguém, ressalve-se - relações tão ténues quanto se quer fazer transparecer. Num clima de suspeição como o que reina, não será difícil perceber que as aparências também contam e devem contar, principalmente porque as pessoas envolvidas devem ser um exemplo de integridade pelos cargos que ocupam. Será que estes dois senhores não consideram a possibilidade de, a cada nova noticia, verem adensar a nuvem negra que repousa sobre as suas cabeças? Como diz um ditado que tanto aprecio, "à mulher de César não basta ser séria, tem de parecer". E neste caso, se as aparências não nos iludirem, o cheiro a irregularidade, a "compadrio" e a tráfico de informações podem inundar o ar que

Óculos, cabelo lambido e mochila vermelha

Lembram-se daquele menino de óculos, cabelo lambido com gel para trás, que chegou à Universidade ainda de mochila vermelha às costas? Lembram-se daquele rapaz a quem muitas dariam crédito intelectual mas a quem poucos tratariam como parte integrante de algo comum? Alguns, os meus mais chegados amigos, lembrar-se-ão até de um menino religioso, que sonhava casar virgem e acertar à primeira na mulher que amaria para sempre. Lembram-se, de certeza, de um menino que não tocava determinantemente em álcool ou tabaco. Recordam facilmente as recusas dele em sair à noite. Que é feito desse rapaz tão sério? Há quem afirme tê-lo visto ir-se embora, ter partido. Há quem pense até que morreu para sempre e no seu lugar deixou outro ser. Mas tudo isto é mentira! Este menino de óculos, sóbrio e saudável, pudico e religioso, fui eu. Aliás, sou eu! Mas as pessoas crescem... Quem hoje me conhece e não tomou contacto com aquela figura que descrevo acima terá dificuldade em imaginar. Contudo, em essência, t

Questões de perspectiva

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As perspectivas de vida que temos mudam. Sim, afinal, os objectivos não são estanques. São voláteis, esvaem-se, esgotam-se, perdem-se no tempo. Há coisas, por exemplo, que tendemos a valorizar que não passam de meros pedaços de um vazio que, arbitrariamente ou não, nos rodeia. É estranho que percamos tempo com esses factos, mas eles, por serem parte integrante da nossa realidade, estão diante de nós, sem misericórdia. Todos já devem ter notado a descaracterização de algumas prioridades, valores que se deveriam manter interminavelmente. Mas, como os valores também têm tempo, acabam por ser ora ultrapassados, ora hipervalorizados, ora ignorados. Tudo isto quase ciclicamente. O melhor exemplo disso é o sexo. O sexo, como partilha do prazer, tem vindo a perder o secretismo e a tornar-se um tema menos silencioso do que antes. Democratizou-se, no fundo, e acabou por ser impelido à compreensão da sua semântica. O seu significado, antes singular, agora ter-se-á transformado numa multi

Para ti

Sabes esses espelhos da alma Que tuas pálpebras aconchegam? Sonhei guardá-los na palma Porque os dedos todos não chegam E esse teu tão calmo jeito Feito de um mistério silencioso Onde amiúde me deleito E me faz tão curioso Sabes dos lábios desenhados Que a tua face encaixilha? Imagino-os em beijos apaixonados Do mundo nova maravilha Sabes desse pleno poder Que a dançar enfeitiça? Quase me faz não conter Todo o fogo que me atiça E se não tiveres defeitos? Arranjar-te-ei um altar Para, em momentos perfeitos Te poder, somente, contemplar.

As difíceis despedidas do que é fácil

Sei de alguém que vai partir. Por problemas conjugais deixará o marido de há décadas e partirá. Outro país a espera e, consequentemente, uma vida mais activa e, assim desejo, mais feliz. Do ponto de vista de quem com ela conviveu durante mais de dez anos, tudo se torna estranho. A presença daquela pessoa era-me algo garantido, daqueles factos a que pouco ligamos por nos parecerem marcados em pedra. São dados assegurados, no fim de contas. A vida muda, contudo. O que outrora estava garantido poderá hoje não ser mais do que uma recordação, seja de que teor for. Que o diga o marido, quando descobrir. Saberá que todos os erros que cometeu mudaram a sua existência? Ou teimará em culpar a fugitiva esposa pela conduta desenfreada e quase leviana de desaparecer da sua vida? Apenas sei responder à questão que em mim se coloca. Se aquela mulher, que nunca significou nada para mim a não ser uma constante presença se transforma numa despedida difícil, tomara que os erros de hoje não os obriguem a

Valência e o meu "até já"

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Valerá sempre um até já! Deixou saudades, como se notará pelas parcas palavras que escreverei. Custa escrever sobre estas coisas. Barcelona também foi assim, para pior, tendo em conta que o que escrevi à mão nunca tive coragem de passar. Reler aquilo requer mais tempo... Nesta viagem, além da comida, das pessoas, das simpatias, dos sorrisos anónimos, do hotel, dos italianos barulhentos, enfim, do bom e do mau que acaba por ser bom por ser diferente, há uma ressalva determinante: a companhia. É a viajar que a essência das pessoas vem à tona. E eu adorei navegar nesse imenso mar, feito de um feitio difícil (porém, mais fácil do que o meu), uma enigmática beleza e um companharismo surpreendente... E como a vida é curta, deixo-vos com a música que mais se ouviu por lá, nessas noites de memórias eternas e turvas pelos líquidos sorvidos...

Passear, visitar, tapear, treinar

Hoje foi dia de ver a Ciudad de las Artes y las Ciencias. Alguns quilómetros a pé foram-nos mostrando uma cidade jovem e pronta para o turismo, edifícios que tanto lembravam o barco do Capitão Nemo de Júlio Verne como naves vindas de filmes de ficção científica. Tapeamos ao lanche. No fundo, uma visita ao sabor mediterrâneo... No Medium Conqueridor aproveitei para treinar um pouco. O ginásio não é grande, mas tem tudo o que uma sala de treino de um hotel deve ter como indispensável. E que tal um jantar, sem repetir a Paella Valenciana de ontem? Estão convidados...

Valência II

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Uma cama jaz neste quarto, desfeita já por sonhos e outras travessuras. Valência tem o sabor catalão desta costa mediterrânea. Os copos fluem facilmente, os corpos cruzam-se agilmente e a noite cai com sons que noutro sítio seriam música só para alguns. Aqui tudo é para todos e todos estão por tudo!

Valência

Este banco do Aeroporto sabe bem. Começa mais uma daquelas aventuras desmedidas. Ou bem medidas. A vontade de levantar voo, a vontade de aterrar de conhecer, enfim, de viver. E tudo isto com companhias inesperadas, vontades unidas, aquelas acima citadas... É assim que tudo começa na vida: com um inesperado sim a uma ideia inicialmente improvável. Até já...

As fieis tempestades onde depositamos ideias

Oito anos se passaram, se fecharam no dia sete do mês corrente. Oito anos a escrever para estas páginas virtuais, oito anos de paixões, de mágoas, de desencanto e muito encanto. O Fiel Depositário está ao meu lado há um terço da minha vida. Tendo em conta que os primeiros anos são vividos sem a escrita, sobra ainda menos tempo para me lembrar do que era escrever e não o ter. Lembro-me de o ter criado antes da minha primeira viagem. Li algo num livro sobre espaços na web que permitiam que se escrevesse e se lesse e, no fundo, se deixasse o Mundo ver o pensamento que transportamos individualmente. A globalização do pensamento personalizado, portanto, que soa a paradoxo, mas tem um lado muito bonito. É aqui que tenho alguns dos poemas mais bonitos que já escrevi. Li um deles ontem, numa noite especial de poesia. E soube-me bem recordar o imenso prazer que é alimentar este velho amigo. O FD viu nascer outros blogs, filhos da sua vontade, e da minha, que acabaram por influenciar outros. Com

Sacrifício ao sol

Mais um dia de puro ócio, com uma perspectiva cultural sem par. As noites de poesia de quarta-feira, provadas por fotografia e ao sabor de textos de qualidade superior, no Olimpo, aquecem esta tarde mais do que o calor que se faz sentir. É este calor e este mar que me observa desde o horizonte até beijar a areia que me fazem sentir que esta vida não tem igual. Também, é certo, não haverá mais nenhuma para nos fazer sentir algo do género. Por estas razões, o valor que têm momentos destes, de descanso mental e extenuação física, porque o calor também cansa, acaba por nos valorizar enquanto pessoas. É verdade, tornam-nos pessoas diferentes, gente que vive, deixam-nos sentir o autodomínio dos nossos passos e fazem com que a necessidade de realização pessoal deixe de ser medida por méritos e esforços. Bastam o sol, o mar e tudo o que com eles se conota para que nos sintamos plenos. E escrevo. Como não podia deixar de ser. Escrevo à velocidade que me permite o tempo que o sol me deixa, mas

A praia, o tempo e o outro tempo

Há neste tempo, o climático, algo de novo. Sempre novo a cada ano que surge. Há aquela saudade do calor que se faz sentir nesta esplanada onde escrevo. Onde vim, propositadamente, escrever. Há a renovada vontade de criar. Mas não se chama inspiração. Por favor, não lhe dêem esse nome. Cansa-me que se ofereça sempre ao que é externo o mérito de algo que vem, invariavelmente, de dentro. Não é inspiração, trata-se de pura transpiração, trabalho, persistência, vontade e a força que dela advém... Vejam o trabalho que dá acordar, almoçar, saber que as férias estão a ser óptimas e ter de fazer o esforço de sair, pegar no gadget que servirá de meio e optar pela esplanada que mais nos aprouver só para praticar o prazer maior de poder criar, de poder deixar estas palavras fluírem até vocês, que agora as lêem. Imaginem que que o ócio, aquele outro de ficar em casa sem mais nem porquê, me assalta? Já não dá. Já aqui estou, a aproveitar o calor deste Março estranho e novo, novo a cada ano que surge

O simples prazer de jantar

Chega a segunda-feira e janta-se fora. Vem a banda, os amigos, os copos que se entrelaçam em conversas, ora banais ora com a seriedade que tem de ser. E ouve-se. E fala-se. Haverá maior prazer que partilhar momentos com amigos e ser feliz à custa disso? Ser feliz pelo preço de um jantar e pela simplicidade de poder gastar tempo a partilhar uma das melhores actividade que o ser humano desenvolveu com perícia: a comunicação. As conversas vagueiam, é certo, por assuntos que a ninguém interessaria ler aqui neste post. Muda-se de assunto à velocidade da lembrança, memórias surgem livres de censura. Bebe-se um pouco mais. Os próprios copos, que se esvaziam rapidamente, soltam os lábios e a língua. É um prazer estranho e, simultaneamente, facilmente explicável pelo espírito gregário que todos reconhecemos. No final, os laços estreitam-se, as pessoas aproximam-se, a amizade já se começa a escrever com maiúscula. O simples prazer de jantar não tem preço, não é taxado e deixa sempre três resiste

Sons e ecos mentais

Existem sons que, por simples que sejam, se retêm na memória, não a querendo abandonar. Esses que são considerados cientificamente um transporte a momentos passados. Assim é com a música, com as chamadas de atenção, com a declaração de sentimentos, com a expressão da palavra escrita através da voz... Quem nunca chorou a ouvir uma música ou se comoveu com palavras ditas na hora certa, da forma mais acertada? Estes ecos mentais, como em mim a música que agora ouço do genérico de Tom Sawyer, tocada pela banda residente do Syrah Bar, levam-me amiúde até tempos que, ao contrário do que se diz, voltam todos os dias por fazerem parte da nossa existência. Que assim seja. Sempre...

Experiência digital

O mundo muda a olhos vistos e com ele todas as actividades a que estamos habituados. Escrever sempre foi algo prático e uma actividade que se pode sempre fazer fora de casa. Porém, perdia-se tempo, outrora, a copiar à mão aquilo que outros tinham escrito. Mais tarde, as máquinas de escrever que subtraíam dificuldade à cópia mas não ao armazenamento. Depois, os computadores. Revolução completa onde o escritor poderia debitar palavras prontas para a edição, também esta revolucionada pelas mesmas tecnologias, e armazenar páginas imensas sem usar gavetas infinitas. Os computadores tornaram-se portáteis, permitindo libertar o escritor do escritório e hoje qualquer um pode escrever onde quer que seja. No fim, chegam os tablets. Experiência estranha e estranhamente deliciosa, portabilidade máxima até hoje, um mundo com as polegadas de um palmo. Os e-books reforçam o seu mercado, facto só permitido pelas novas interfaces. Falta apenas a textura e o cheiro, mas há outras potencialidades. Talvez

Mesa vazia

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Há uma estrada. Há um caminho. Existem cadeiras vazias, uma mesa que espera e músicas que marcam. E depois, no fim de contas, apenas isso, nada mais, faz sentido. Horas demoradas entre beijos clandestinos, subterfúgios de um sentimento sem nome, vozes de um coro relacional impronunciável. Fugir não é opção, porque não se foge de quem se é. Lutar poderá não ser, por não haver força maior do que a liberdade que se proporciona. Eis uma encruzilhada onde as caravanas de pensamentos se atropelam, onde nascem decisões não ditas, onde se escondem momentos , onde se descobrem medos e armadilhas e dicotomias do sentir… Isto é viver, afinal. A dor também é prazer, em análise profunda, tendo em conta que a vida assim nos trata. Não sendo assim, antes vegetal. E os outros dias em que não acorda com a noção de nada, mas o todo que um vazio nos traz nos prova que, por maiores que sejamos, não vencemos sempre? Pequenos, portanto. E lá estará a mesa vazia, à espera da fugacidade do