Mensagens

A mostrar mensagens de junho, 2007

Sul

Viajo para Lisboa á velocidade de um Intercidades. As paragens, boas para enquanto se dorme, são imensas para quem não se acompanha de livros nem tem as estações radiofónicas do Alfa. Eu trago três. Leio Dana Arnold, no seu A História da Arte e Avenida Paulista de João Pereira Coutinho, ambos saídos da irmandade estabelecida entre a Sábado e a Quasi, o meu prato principal e faço d’ O Ano de 1993 de Saramago a sobremesa poética. Anseio os Il Divo como penso nunca ter ansiado algum artista e talvez porque André Sardet chegou em hora de lamentos, os mesmo que agora quase ridicularizo. Enquanto isso, vejo o revisor e avalio-lhe o porte. Tem mais anos de carreira do que as caras de sempre do meu urbano ou, pelo menos, assim parece. E mostra que a idade lhe conferiu a sabedoria da melhor universidade que há, ao dizer a esta menina que agora entra em Alfarelos, com voz cândida, para colocar a mala grande no local que lhe é reservado, para não ir apertada. Fá-lo como um pedido, não uma ordem

Il Divo

Correndo o risco enorme de que a minha fama me atraiçoe, mas fazendo-o em nome do amor pela arte e pelo Fiel Depositário que, acredito, nela se insere, sinto-me tentado a perspectivar o dia de amanhã. Dado que acompanho o quarteto inglês - porque nasceu em Inglaterra - do qual nenhum dos membros o é - um é americano, outro espanhol e há ainda o francês aos quais se junta o suíço – é com grande excitação que espero o concerto da noite de quarta. E os Il Divo, por quem são, para nós portugueses, por quem somos, farão um concerto que espero memorável. Ou imemorável… Porque a arte sente-se e vive-se, não se memoriza.

Relato: três dias

Passaram dois dias desde a apresentação do livro de Maria Bochicchio, O Paradigma do Pudor. Com pianistas e sopranos, a presença de João Pereira Coutinho e de Arnaldo Saraiva, um final com Porto de honra e muita expressão do que é a arte da filologia e a actividade académica literária de topo… Afinal, falar sobre José Régio, ou melhor, construir obra acerca de uma outra não é facto de deixar passar despercebido. E pensar que uma italiana olha para Portugal como sendo fonte de inúmeros génios literários (entre outros) devia fazer-nos rever a noção de que tudo está absorto em escuridão. Algumas mentes estão, mas eis que lhes aparece uma lanterna vinda do estrangeiro e ilumina aquilo que poderia ser um pano negro a cobrir uma janela poeirenta. Ontem, uma tarde repleta de actividades de relaxamento exceptuando uma discussão em torno de hábitos de conduta em relacionamentos íntimos. A razão de ser do contraditório é a expressão própria de quem fala; ora se diz uma coisa, ora se acha outra,

Nikita e a Expo Saúde

Durante três dias, segunda, terça e quarta, marquei presença na Expo Saúde, um local de grande validade para a população abrangida, onde o visitante podia receber aconselhamento de saúde a par da verificação de alguns dos parâmetros analíticos aos quais devemos estar constantemente atentos. O convite foi-me dirigido e, como voluntário que sou, não pude deixar de aceitar e comparecer dois dias além do que estaria previsto à partida. Terminou ontem, tarde, já noite profunda e com um saldo que, a meu ver, é positivo. No regresso, ligo o rádio e ouço Nikita de Elton John. Chove lá fora, mas o limpa-pára-brisas protege-nos, ao vidro e a mim. E chego. Com a consciência de, mais uma vez, ter cumprido um dever que existia de mim para comigo. Falta de modéstia? Pois que seja. É a forma e os meios que valorizo. Os princípios e os fins têm o valor que nos lhes dermos.

Saramago e eu

Ontem, fui à Feria do Livro do Porto. Por mero acaso, consultei o programa para verificar a hora de abertura e, qual não é o meu espanto, vejo o nome de Saramago. Uma sessão de autógrafos e eu em casa. No entanto, e sabendo que a guia de condução estava já na minha posse há cerca de duas semanas, nada melhor do que preparar-me e marcar presença no «meu» Pavilhão Rosa Mota. O encontro com o Nobel da Literatura de 1998 estava marcado para as 17 mas outros compromissos levaram ao adiamento. Por isso, enquanto esperava uma hora, escrevi. No meio de todo aquele mundo compus estas palavras: «Visito a feira do Livro do Porto. A ausência do Aldeia de Luz e da Papiro não lhe tiram o glamour de sempre. Ainda acredito que um dia aqui estarei sentado a falar e a dar autógrafos. Espero por Saramago e, após o adiamento da sessão de autógrafos do nosso (sem aspas) Nobel, vejo-me no centro daquilo que um dia foi um rinque. Olho o lugar dos juízes, revisito os lugares dos amigos instantâneos, re

O fim da história

A história tornar-se-ia imperceptível se, pelo acaso, eu não tivesse a felicidade de receber um flash, quase como um sussurro divino, daqueles bem ao estilo das séries americanas, daqueles que deixam o Dr. House especado a olhar em frente com um olhar deliciado e a roçar a lascívia. Bem, talvez não tenha sido bem assim. Talvez tenha sido uma questão não tão esotérica e muito mais prática. Quem vê, ouve e sente, sabe. Quem sabe, percebe os finais das histórias. Finais ou intermédios, tanto faz. O futuro que fale mais tarde; eu prefiro falar agora. Pensam os que nos vêem de fora que o fardo que carregamos, como escritores, é leve e que só trás benefícios. É certo que não o trocava, mas nem tudo cheira a rosas, quanto mais ter a sua forma. E, perceba-se, há muitas formas de fazer as coisas. Pena que muito poucos percepcionem isso.Tentar controlar o ímpeto de escrever é difícil, apartar-nos das personagens é complicado, mas nada é mais incontrolável do que o curso das emoções de um escrito

A Fuga

"A vida é por nós controlada. Perdêmo-la se fugirmos dela. O nosso papel é a genuina e a perseguição do querer. Fugir não é ganhar: é perder." Fernando Miguel Santos 25 de Maio de 2007