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A mostrar mensagens de junho, 2013

A herança impagável

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Hoje, faz anos um verdadeiro herói. Não por ser um distinguido atirador contra a Guiné do Ultramar, não por ser um trabalhador nato e um gestor de excelência, nem sequer por ser meu pai, o que me faz amá-lo descomunalmente... É um herói pela pessoa que está lá dentro, pelo coração mole que só não se desfaz em nome do orgulho masculino, mas que esboça sempre as suas reacções; é um herói por ter construído com as suas mãos e o seu saber uma realidade próxima daquilo que todos desejamos. Dele herdei este vício de não dizer que não a qualquer desafio, o tom elevado com que discuto os meus argumentos, a vontade com que compro pequenas guerras. Mas também foi dele que herdei o poder argumentativo, a garra de ir mais além e a capacidade de me fazer notar, de ter "olho em terra de cegos". Se nada disto bastasse, terias ainda o meu amor por ti, inabalável, imbatível e inigualável, como só um filho, o primeiro filho homem, pode amar um pai. Se fosses rei, eu seria o herdeiro do teu tro

Ignorantes vs. impacientes

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Tenho um colega de trabalho que, em plena preparação para um novo turno, me chamou ignorante com todas as letras, sem qualquer pudor e apenas por eu não ter identificado uma marca de moda nuns brincos, sobre a forma dos quais usei o meu sentido de humor. Na verdade, repetiu-o quando o questionei, temendo eu que a obstrução nasal de que tenho sofrido me estivesse a afectar também a audição. Não é a primeira vez que, em contexto laboral, ouço palavras descabidas, é certo, mas o que mais me chocou nesta abordagem foi o peso gratuito do insulto numa temática tão pouco consistente. Chegamos, como se vê, a um período de completa desconsideração, onde a crise e os seus sucedâneos são desculpa para a irritabilidade crónica de alguns, somada à frustração de outros. Os resultados são estes que se fazem sentir. Uma crise sem precedentes, mas que se refere não aos bolsos e às contas bancárias, mas aos comportamentos e à perda de bom senso. Orgulho-me de ter assassinado parte dos meus hábitos de pr

As bestas

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A vida é bonita. Tem as suas dificuldades, imensas vicissitudes, problemas a resolver, mas também tem a beleza do sentir, do amar, o prazer, as palavras, as pessoas que nos fazem felizes. Tem a felicidade, como estado efémero que, por isso, se torna tão procurada e nos faz prosseguir como a torrente de um rio. Contudo, o quotidiano tem trazido até mim mais uma parecença com os primórdios, o renascimento de um Éden pouco idílico: a existência das bestas. Se outrora as bestas se devoravam entre si e engoliam as presas, agora falam. O veneno é, por isso, mas visível, mais quantificável, não sendo menos letal. A razão do estado deprimente que este nosso jardim apresenta às bestas se deve. Umas querem dinheiro, outras querem poder, todas praticam a arte do atropelo. E todas caem. Não é uma verdade duvidosa que, mais cedo ou mais tarde, o jardim se oferece para resolver estas existências. Hoje temos bestas que minam a reputação do próximo, temos bestam que chefiam em vez de liderarem, temos