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A mostrar mensagens de 2015

Ainda assim é Natal

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Ninguém devia morrer no Natal.  Natal é momento de enterrar a poeira da tristeza debaixo do tapete do sorriso.  Natal não não é momento de enterrar quem se ama, nem de com eles abandonar a esperança. Quando desliguei o telefone, sabia que tinha acabado de assassinar o Natal daquele idoso. Sabia que tinha obrigado aquele pai a dizer à filha, a sua já mais do que adulta sempre eterna menina, que a mãe os tinha deixado. Natal é boas notícias, é celebração de vida e felicidade, mas através daquele auscultador não se enviam acenos de condolências, não se dá um abraço, não se aconchega o coração petrificado que nós enegrecemos. Natal é amor, mas isso é o que os fará chorar.  Deixei correr a minha tristeza numas míseras e pouco profissionais lágrimas, que não serviram sequer para arredar o nó em que o peito se tinha transformado. A imagem do seu Natal, não este, não o próximo, mas todos eles, esventrado por mim com uma adaga de más notícias. Ainda assim, haverá bolo-rei e pão-de-ló, prendas e

É favor ler sem colete de forças

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Numa realidade tão propícia ao engano, tendemos demasiadas vezes ao próprio prejuízo, em vez de procurarmos o equilíbrio dinâmico das diferentes opiniões construtivas e da compreensão. Ninguém gosta de ser considerado uma fracção numérica da realidade, mas também não é menos verdade que muitos se esmeram por manter tudo desta forma. Duma forma geral, reagimos mal aos acontecimentos que nos tocam directamente, mas não nos insurgimos sobre  factos iguais que sucedem a terceiros.  Diz-se amiúde que temos direitos, mas vivemos cada vez mais numa sociedade que nos incentiva a prescindir deles. Alguns, infelizmente, prescindem. "Despedia uma grávida de risco no final do seu contrato." "Quem tem muitas baixas não serve para trabalhar." "Os funcionários doentes têm de ser solidários com os que fazem os turnos." Grassa, como se vê, a estupidez por todo o lado. Perdeu-se o raciocínio lógico. Abandonou-se, de vez, a visão de fundo para se dar lugar ao imediatismo ego

Dia do Pai e da Mãe

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Primeiro celebra-se, depois conta-se. E, na verdade, não há muito a contar sobre o 19 de Março e de ontem, mas a história que o envolve, essa sim, é merecedora de todos os pormenores. Neste dia, para mim, é dia do Pai, mas também o é da Mãe, pelo seu aniversário. É um dia em que aquilo que se reflecte para o pai acaba por espelhar-se no que se pensa para a mãe e a envolvência transforma-se. Nada poderá caracterizar o amor que lhes sinto, nem tampouco minimizar em mim as dores que eles sentem. Porém, sejamos risonhos e solares, agora que a Primavera nos abraça. Foram eles que percorreram cada pedra de castelo comigo, quando quis calcorrear a história de tudo ao mesmo tempo; foram eles que deixaram que os meus sonhos tomassem posse de mim, sem me travar; foram eles que me fizeram tal como sou e que geraram a base que me suportará; foram eles que me mostraram a diferença, o valor do trabalho, a vontade de não ficar calado, a valia e o perigo do orgulho, a estupidez da falsa modéstia, a r

Chefe têm os índios

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Ser líder não é ser chefe. Nem vice-versa. Ser líder é ser como um motor que gera energia, que gera vontade, que encaminha e participa no movimento. Chefe têm os índios. Ser líder é ser empático e defender os direitos de quem nos dá a existência. Afinal, não há líder (nem chefe) se nada houver para liderar. Perdendo as bases, a qualidade que abaixo se pratica, qualquer líder deixa de o ser. Tenho-me encontrado em ambos os papéis ao longo da minha vida, o de líder e o de liderado. Ambos são óptimos quando o objectivo é perseguido de forma comum, sem atropelos. Atritos, esses são inevitáveis. São, até, essenciais ao processo evolutivo. Contudo, hoje é comum alienar direitos, esmagar virtudes, baixar as calças a quem, sedento, nos quer esmiuçar cada vez mais. Façamos frente, por favor. É disso que são feitos os maiores, os que rezam história, os que a fazem. É disso que se trata quando falamos de convicção, de sabedoria, de força. Não é nada desmesurado, nem desprovido de sentido, mas sim

Animal

O ser humano é um animal implacável que, aprendendo pela inteligência a limitar os actos de sobrevivência, consegue agir de forma civilizada. O ser humano é um animal gregário, social e de predisposição para a paz. O ser humano é, por princípio, bom. Até ao dia em que queiram "tocar" no meu espaço, nos meus negócios, nas minhas pessoas, no que eu gosto... Aí, o ser humano é uma besta biológica como outra qualquer.

Onze anos

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Hoje é dia de festa, mas as almas não precisam de cantar. Precisam de continuar a ler. Onze anos é o tempo que medeia a minha entrada na blogosfera e o dia de hoje. Nada fiz para festejar, é certo, a menos que enfrentar a morte apoiando algumas vidas no hospital se possa considerar celebração. Gosto de estar aqui, de escrever para o Fiel Depositário. Mesmo assim, como poderão ver, o post do último aniversário está a muito pouca distância e sente-se o tempo que há entre as palavras. Adianto-vos, desde já, que me encontro a enlouquecer. Ainda não sei que repercussões essas loucuras terão para mim, mas tenho a certeza que ficarei diferente. Agora, para dar ao Fiel Depositário aquilo que ele merece tenho vários mundos. Tenho a Spoon Eyes, que nos vai proporcionando boas surpresas, tenho a SEW com os seus caps já bem badalados, tenho os meus livros, os meus doentes, os meus raros momentos de sono... Por tudo isto, estou louco. Principalmente, louco por querer continuar a escrever aqui, nest

Manifesto "Não consigo"

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Grassa na sociedade um género de "não consigo" que leva as pessoas à inactividade e à falta de motivação. Assim, criei um manifesto para contrapor esse tipo de inércia, dando liberdade a todos para dizerem "não consigo" comigo, desta feita por razões efectivamente válidas. Não consigo... ...compreender quem diz que não consegue sem tentar. ...aceitar queixas de quem nada faz para mudar. ...aceitar a palavra impossível. ...compactuar com faltas de carácter. ...ajudar quem nunca aceita as minhas opiniões. ...auxiliar quem só aceita as minhas opiniões se forem iguais às suas. ...deixar de rir ao ver instrutores de fitness com barrigas a crescer. ...confiar em dermatologistas capilares carecas. ...perceber quem gosta mais do dinheiro do que dos valores humanísticos. ...defender quem muda de opinião com a direcção do vento. ...deixar de contrapor as falsas declarações de virtude. ...entender quem ataca outros sem razão. ...encaixar o ciúme desarrazoado. ...comer o que nu

A Cidade Sem Par

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Eis a Cidade Sem Par Terra de muitas crenças Onde toda a gente vai dar Apesar das suas diferenças É um lugar bonito Feito de hospitalidade Qualquer habitante expedito Mostrará boa vontade Mas esta é uma limitada Análise da superfície Que quando bem aprofundada Nos mostra toda a imundície Nesta terra tudo é feito E nada parece real Mesmo os amigos do peito Uns dos outros dizem mal Há humildes fingidos Que se apregoam ultrajados E que em todos sentidos Não passam de pobres coitados Há corações perto da boca Raivas latentes em cada esquina E muita cabeça oca Que nos fica na retina Há crentes esperançados E incrédulos que se espumam E os gestores desgraçados Cujos sucessos se esfumam Feitos só de teoria Mudam a sua vontade Vivem para o dia-a-dia Com a crise da meia idade Há espaços inteiros Onde podemos encontrar Rebanhos de imensos carneiros Prontos para concordar Há palhaços e animais Trapezistas em exibição Que como os demais Acabam sempre

Charlie Hebdo

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Vou-me pronunciar sobre o Charlie Hebdo. Vivo de perto uma realidade religiosa, sendo que na minha família há crentes de quatro religiões diferentes e um quinto grupo de desertores, no qual me incluo. Sei, de fonte segura, por ter lido a Bíblia de ponta a ponta várias vezes, e partes de outros livros sagrados como o Corão, que a deturpação das palavras ditas sagradas é resultado de mais crimes do que a fome. Mais de metade do que as religiões veiculam não pode ser provado e depende unicamente da fé, algo que não é reprovável nem condenável mas que tem um lugar próprio: o interior de cada um. Acontece que, quando se acredita muito, deseja-se que outros também acreditem. E isso leva a uma tentativa de influência para a conversão que gera discórdia, como em qualquer outra opinião, mas com muito mais força. Agora vamos relativizar as coisas. A fé é importante, mas apenas para aqueles que a têm. Assim como o futebol, a praia, o jogo da sameirinha ou da malha. E não me digam, por favor, que