Traição natural

A tragédia que se abateu sobre a Ásia é um assunto, por mim, difícil de abordar, o que explica o comentário tardio. Isto acontece porque, ao contrário das guerras e de algumas outras tragédias, não há um culpado.
No 11 de Setembro foi fácil apontar o dedo a Bin Laden; na Guerra do Golfo II dois dedos apontam, um para Bush outro para Saddam… No caso do tsunami é impossível achar alguém que tenha culpa, alguém que carregue com a raiva das vítimas, alguém a quem blasfemar em caso de desespero. Também ao contrário de outros casos aqui houve uma traição. As Torres Gémeas caíram pela força de um inimigo cobarde, que se escondeu no próprio território-alvo urdindo o seu malévolo plano; a guerra no Iraque não foi mais do que uma entrada de rompante de um inimigo mas, mesmo assim, à vista de todos. Já as ondas que varreram a costa desses desgraçados países asiáticos usaram de traição para com as vítimas. Silenciosamente, recuaram. Depois voltaram e, aparentemente, fizeram-no como sempre. No entanto, na altura de parar não o fizeram e levaram consigo todos os conhecidos milhares de almas que, aterrorizadas ou sem tempo para isso, deixaram de fazer parte. Tudo isto feito pelo mar que, quem sabe á mesma hora, acalmava muita gente do outro lado do Mundo.

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