A herança impagável
Hoje, faz anos um verdadeiro herói. Não por ser um distinguido atirador contra a Guiné do Ultramar, não por ser um trabalhador nato e um gestor de excelência, nem sequer por ser meu pai, o que me faz amá-lo descomunalmente... É um herói pela pessoa que está lá dentro, pelo coração mole que só não se desfaz em nome do orgulho masculino, mas que esboça sempre as suas reacções; é um herói por ter construído com as suas mãos e o seu saber uma realidade próxima daquilo que todos desejamos. Dele herdei este vício de não dizer que não a qualquer desafio, o tom elevado com que discuto os meus argumentos, a vontade com que compro pequenas guerras. Mas também foi dele que herdei o poder argumentativo, a garra de ir mais além e a capacidade de me fazer notar, de ter "olho em terra de cegos". Se nada disto bastasse, terias ainda o meu amor por ti, inabalável, imbatível e inigualável, como só um filho, o primeiro filho homem, pode amar um pai. Se fosses rei, eu seria o herdeiro do teu tro