As bestas




A vida é bonita. Tem as suas dificuldades, imensas vicissitudes, problemas a resolver, mas também tem a beleza do sentir, do amar, o prazer, as palavras, as pessoas que nos fazem felizes. Tem a felicidade, como estado efémero que, por isso, se torna tão procurada e nos faz prosseguir como a torrente de um rio.
Contudo, o quotidiano tem trazido até mim mais uma parecença com os primórdios, o renascimento de um Éden pouco idílico: a existência das bestas.
Se outrora as bestas se devoravam entre si e engoliam as presas, agora falam. O veneno é, por isso, mas visível, mais quantificável, não sendo menos letal.
A razão do estado deprimente que este nosso jardim apresenta às bestas se deve. Umas querem dinheiro, outras querem poder, todas praticam a arte do atropelo.
E todas caem. Não é uma verdade duvidosa que, mais cedo ou mais tarde, o jardim se oferece para resolver estas existências.
Hoje temos bestas que minam a reputação do próximo, temos bestam que chefiam em vez de liderarem, temos bestas que mimetizam as habilidades que não têm, temos bestas que se escondem atrás de troncos de árvore podres.
No fim, isto continua a ser um jardim. Continua a haver a beleza do sentir, o amar, o prazer, as palavras...E as palavras das bestas que nos escusaremos a ouvir e nos esforçaremos por negar, mesmo que isso lhes expluda a cabeça de orgulho ferido.


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