O bom caminho

No fim-de-semana transacto visitei a Corte Nova da Preguiça, agroturismo perto de Vila Nova de Milfontes. Não é a ilusão criada pelas caras conhecidas, mas sim o lado incógnito destas e o desconhecido total das amizades que se constroem assim, vindas do nada. Mas nós, pessoas, não somos nada.

A minha recordação da Preguiça nunca será vaga. É algo premente de mais para se ter passado apenas no espaço de dois dias. É aquela alegria permanente de ter ido e a saudade suada por dois corações apaixonados que gostariam de ter ficado mais tempo.

Na Preguiça não há defeitos. Os erros, encarados pelo passar do tempo mais calmo, mais lento, porque nada é feito com pressa, são naturais. E, sendo assim, não são marcas defeituosas. A passagem do Homem ali é uma marca indelével, mas é por meio dela que se retorna ao espírito primordial da calma para que fomos construídos. A mesma calma a que desejamos voltar quase diariamente.

A Preguiça é longe. Se o longe traz toda esta simplicidade então vale a pena. Aliás, podia ser ainda mais longe que desejaria da mesma forma rever José Falcão em sua casa. O longe simples, afinal, faz-se em bom caminho.

O regresso, em alguém nostálgico como me considero, que guarda as recordações de forma marcada e a elas volta de modo recorrente, é doloroso. Mais doloroso se torna se chegarmos à conclusão que a simplicidade dos momentos deixados não se encontrará no porvir. Ou, se forem achados, será por meio da dificuldade imensa da procura, que nunca devemos abandonar, mas que não corresponde à facilidade espontânea da simplicidade.

Eis-me pois na encruzilhada saudável que é querer e por meio da impossibilidade aumentar o desejo. E se na encruzilhada vier a incompreensão? Sim, é nestes caminhos do quotidiano, os mesmos que nos fazem perder, que a incompreensão se torna mais viva. Não há espaço para ela na simplicidade. A simplicidade é tolerância. Se ela vier, a incompreensão, fará com que nos sintamos como peça de um jogo de damas entre um bispo e um rei. É assim que a voz de quase todos chega até nós. Até mim. Ou talvez não seja assim. Talvez sejam apenas momentos em que o som é este, mas logo muda. Assim seja, pelo menos.

Quero a Preguiça novamente. A preguiça é bom caminho. E, na Preguiça, a preguiça é algo que se encontra com naturalidade e sem culpa. Se vivemos numa época em que todos os serviços estão à nossa disposição sem sair de casa, então enviarei todos esses e-mails e farei todos esses telefonemas.

Que me tragam a paz que a Preguiça traz.

Comentários

Anónimo disse…
Não sabia onde podia comentar e desculpa a ignorância....Mas hoje, foram mais 24h recheadas de um imenso nada e em conversa com a tua amiga nhó-nhó chegamos até ao teu blog onde lemos "Portas e janelas abertas, cortinas ao vento", de Novembro.
Tive que deixar um comentário sobre isso, por ontem, por hoje e pelos próximos tempos de uma fase tão escura, onde muitas portas e janelas já se fecharam..... Mas a verdade é que somos constituídos por uma qualquer espécie de massa, espírito ou consciência (não será tudo o mesmo?) que nos faz continuar a caminhar, de forma única e singular.
Nada disto faz muito sentido, mas era só mesmo para dizer que gostei do que li.
Beijinhos,

Amiga da nhó,
Nhécu