Fujo logo existo

É quando nascem as questões que nós notamos que elas existem, embora já saibamos, de antemão, que elas estão ali.
Desde há alguns anos a esta parte tenho vindo a manifestar o meu desagrado contra as opiniões que não divergem, contra os rebanhos que se criam entre as pessoas, contra aqueles que optam irreflectidamente só porque o do lado optou assim.
É nesta altura que sinto, mais do que nunca, que muito pouca gente percebe isso. Limitação ou não, querem fazer crer que nada as preocupa e levam aquele tipo de vida que todos nós censuramos mas à qual a maior parte cede.
Sinto que cada vez menos gente entende o que quero dizer. O meu tom jocoso e as minhas brincadeiras cada vez são menos tolerados. Há mais olhares transviados, mais sensações de hipocrisia latente, mais desvios inconsequentes, mais tentativas de molde…
Às vezes penso do que seria de mim sem este ego, aquele que todos conhecem. Sem aquela forma de enfrentar as coisas disposta a combater, sempre. Aliás, disposta a fazer valer convicções das quais não prescindo.
Tendo a encarar isto com alguma presunção. Entendo-o como um sinal de afastamento do rebanho. Talvez tenha chegado a hora de tentarem iludir-me que o caminho melhor é ao lado dos outros membros, obedecendo ao ladrar do cão pastor, tendo de partilhar as mesmas ideias, os mesmos comportamentos. Ter os mesmos gostos, ver o mesmo quando se olha…
E, por outro lado, sinto a admiração de algumas pessoas ser cada vez mais intensa. Pessoas que conheci de outra forma, outras que estão longe, até fora de Portugal, expressarem conhecimentos de mim que não sabia ser possível terem. Vejo que admitem erros, admitem falhas, sem procederem àqueles olhares mesquinhos…
E aqueles que sempre aqui estiveram, que criticam quando lhes compete e se aplica, que levam as minhas críticas nas mesmas circunstâncias, mas que acompanham. Aqueles que se privam para eu ter e me levam a desejar fazer o mesmo. Aqueles que não precisam de falar para eu ouvir e para os quais basta um olhar meu para fazerem a pergunta certa. São menos, mas mesmo assim não são poucos.
Admito alguns enganos. Fui, até, ingénuo em algumas esperanças, fruto do optimismo. A avaliação correcta do carácter já a tinha feito, o desvio, ou a percepção deste, é que esperava que não se traduzisse na realidade.
Nada lamento, contudo. Tenho a noção que é assim que se aprende. E quando eu chegar lá, onde quero, talvez o rebanho já cá não esteja e não possa, também, aprender.

Comentários

Anónimo disse…
Cabe ao bom pastor não perder o seu rebanho, orientando-o e por vezes invertendo os papéis- seguindo-o ele.
Cabe ao bom "orador" fazer-se entender do melhor modo.
Cabe ao justo, olhar-se e colocar um pouco menos de egocentrismo e um pouco mais de humildade nas suas declarações e pensamentos.
Cabe ao pertinente saber onde, quando, porquê, de que modo dizer o que diz.
Cabe ao ponderado, pensar e reflectir.
Cabe ao amigo não afastar quem dele se aproxima com ironias e superioridades.
Cabe a qualquer pessoa dar o braço a torcer e admitir que os outros muitas vezes têm razão em pensar o que pensam sobre ela.
Anónimo disse…
Nunca percas esse Ego que te caracteriza!! Sem ele não serias o mesmo.