Levitando sobre um espaço prestes a implodir

Fechando-se porta atrás de porta, confiança atrás de confiança, nada nos resta a não ser levitar. Percebemos que cada vez mais coisas têm um duplo significado e uma interpretação alternativa que nos induz no erro de aceitar as mesmas opiniões de sempre, confusas e, por si mesmas, desorientadas. Levitamos, mas o contacto inevitável, ainda que breve, com o solo pode ser doloroso e levar-nos, ainda mais, ao cúmulo da reflexão, quando se pensa sobre o que se deve ou não pensar.
E que dizer dos momentos em que não podemos firmar a nossa posição porque não temos suporte? Que acrescentar das alturas em que a vertigem de não poder falar é mais forte do que a presunção de o poder fazer sempre? E se as acções não bastarem para isto corrigir?
Não bastam. E aí levita-se, a fuga suprema de quem não pode voar.

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