Sem gasóleo no aniversário





Há histórias que são impagáveis. Ao fazer vinte e seis anos, percorro a minha memória com mais calma do que amiúde se faz e revejo alguns momentos passados entre amigos. Que livros poderiam nascer de memórias tão boas!
Não pensem que deitei alguma dessas gavetas fora. Apesar de existirem amigos diferentes, relações diversas entre as pessoas e até uma certa hierarquia nas amizades por uns serem mais próximos, nada é desperdício. Todos os momentos são parte integrante do caminho que me trouxe até aqui.
Ontem, sem querer, nasceu mais uma história para contar. Bastou uma distração no caminho, mais trinta quilómetros do que se devia e eis que ficamos sem gasóleo!
Linda prenda de anos...
Fica a Filipa no carro a tratar de colocar o triângulo e eu, o aniversariante, largo em corrida pelos dois quilómetros que nos separavam da estação de serviço da Mealhada.
A uns escassos trezentos metros um carro salva-me. Um casal e um cão, desconhecidos. Entro logo no automóvel, sem hesitar, após a corrida sobre sol intenso. Resolvo o assunto do combustível com os responsáveis da bomba e volto à corrida, desta feita com cinco litros de gasóleo dentro de um recipiente dissimulado num saco de jornais. Preocupado com a possível multa sou abordado por outro carro, logo à saída da estação de serviço. A GNR!
Primeiro, faço um ar de desilusão, mas logo começo a rir-me. Que aventura!
Confirmo aos agentes a história da Filipa, com quem já tinham falado, e eles aconselham-me a ter cuidado ao ir pela berma. Agradeço, pensando na multa de que me livrei, e continuo.
Depois de mais uma corrida, abasteço o carro e ele não pega. Tento outra e outra vez e nada. Há que telefonar à assistência em viagem.
A companhia de seguros engana-se a transmitir as informações ao táxi e ao reboque e eles procuram-me na A1, sem sucesso durante mais de uma hora. Por fim, contactam-me e quando o reboque chega até ao local onde estávamos estou a falar com o taxista ao telefone. Diz que eu tenho um Renault preto e eu tenho um Hyundai cinzento; diz que eu estou no quilómetro 216 e eu no 206; afirma categoricamente que eu estou no sentido Sul-Norte e eu corrijo, sem ele aceitar, que estou no sentido inverso.
Posteriormente, o taxista alucinado tenta culpar-me da sua incompetência e das informações erróneas da companhia e trata-me mal. Exalto-me, digo-lhe com todas as letras para não me falar assim, grito com ele e mais tarde, tenho de o aturar durante mais de quarenta quilómetros a conduzir conforme nem um inexperiente deve.
No fim da viagem, revejo os amigos da universidade, recordo momentos como os que acima citei e ataco o leitão que me espera há quase três horas. E estou feliz! Muito feliz ao lado dos meus amigos e da mulher que amo.
Citando o Simão Vela, num desejo para o futuro: "que nunca te falte o combustível noutras ocasiões, apenas no carro". Rimo-nos e isso dá-me a certeza de que o combustível da minha vida são as pessoas de quem gosto, que gostam de mim e com quem partilhei momentos inolvidáveis!
Obrigado a todos, perdoem algum esquecimento e sorriam! Guardar-vos-ei sempre comigo!


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