Deixa o sótão, amor. Anda ver as máquinas do (nosso) futuro!

Onde estão todas as expressões de sublimação que procurei tanto tempo? Onde será que se encontram os seixos da calçada em que fui tropeçando? Quero agora revê-los e rir-me um pouco com eles. Onde estão os corpos inúteis, lançados na vala comum do desejo desprovido de sentido, que me trouxeram até ti?
Amor, diz-me onde estão os silêncios gritantes que guardei lá atrás? Diz-me onde ficaram as melancólicas noites de balcão…
Onde estarão os pares que me ensinaram os passos que agora só sei dançar contigo? E as teclas do piano que agora toco para ouvires?
Tudo em ti.
E aquelas manhãs em que o travo azedo das noites longas se perpetuava até à hora de voltar a ver o sol pôr-se? Essas são agora corolário de um beijo de acordar ou de uma despedida doce.
Afinal, que fizeste às pedras da calçada onde tropecei? Não as quero, mas gostava de saber dessa magia, dessa tua subliminaridade com que fazes sumir o difícil.
Se percorro os teus passos, maioritariamente dados aqui, de braço dado, não consigo perceber onde foram parar os fantasmas de outrora. Curiosamente, assusto-me com tamanha felicidade!
Pois se deles tinha medo, não deveria também temer quem é mais forte do que eles?
Gostava de ver esse sótão onde depositaste o meu passado. Afinal, o passado existe para ser olhado, de quando em vez, para ser revisitado, para ser percebido…
Não tragas nada para cá. Teremos de ser nós a olhar para as fotos empoeiradas e não elas a invadir o nosso castelo de madrepérola.
Agora que penso, conseguiste guardar tudo organizadamente, sem ouvir os teus passos a percorrerem as escadas e o arrastar dos armários enormes daquilo que estava guardado? Por isso te doem as costas!
Não terei forma de te pagar. Posso só ficar a teu lado? Posso também revistar o teu passado para te saber de cor?
E carregar-te ao colo quando me apetecer? Posso oferecer-te flores?
Onde está a luz fundida dos meus olhos? Trocaste a lâmpada, porque agora dizem que eles brilham.
Vá lá, mostra-me tudo só para eu saber o truque… Ah! Já sei! Eu sabia que esses olhos escondiam uma força titânica!
Então, faremos assim. Deixa estar tudo onde está. Quando precisarmos de cortar as raízes ou de as regar, assim faremos. Pegamos na escada, subimos ao sótão e vemos o que podemos fazer. Mas não tragas nada para baixo. Isto está tudo tão limpinho… Já viste o pó que depois teríamos de limpar?
Quatrocentas e treze palavras e ainda não te disse que te amo! Distraí-me com as tuas aptidões…
Amo-te ao ponto de te fazer mais uns quantos pedidos. Quero que fiques aqui ao meu lado, que me abraces, que me faças sentir acompanhado, que me deixes molhar-te os ombros com as lágrimas que amiúde me escorrem, que me fotografes com os beijos que partilhamos de olhos fechados… São beijos sem flash!
Mas, de olhos abertos, de flash apontado a nós, qualquer um perceberia que falta a minha parte. Como não tenho a magia dos teus olhos, criei várias máquinas.
Há aqui uma máquina que chamei ABRAÇO SEGURO. Esta protege-te. Os meus braços, com a ajuda desta máquina, têm toda a força necessária para afastar até o que não existe. E o que existe? Bem, isso corre o risco de deixar de existir.
Para não teres de esconder a cara quando tiveres medo tens a VENDA DE TROCA OCULAR. Depois de a colocares ela troca os meus olhos pelos teus. Sim, eu fico a ganhar na cor, mas pelo menos não tens de ver o que não quiseres e eu assumo o sofrimento que não desejares.
Para os momentos em que te sintas sozinha ou acompanhada de mais pelas arestas quadradas de quem não te percebe tens o CARDIORADIOTELEFONE: um telefone que usa uma frequência única e não interceptável, que liga directamente ao meu coração e onde podes ouvir que ele bate desmesuradamente por ti.
Outras máquinas estão em desenvolvimento, mas precisarei da tua ajuda para pequenos ajustes finais. Afinal, agora que estamos lado a lado não quero deixar-te aparte de nenhum dos meus desígnios.
Mas tenho aqui uma muito especial. A FUTURECAM permite-nos tirar uma foto e ver como seremos num ano à nossa escolha.
E sabes o que descobri? Que nas fotos dos meus dias de velhice apareces sempre ao meu lado…

Para a Andreia Filipa Cardoso, porque sem ela já nada faria sentido…
Foto: http://thumbs.dreamstime.com/thumblarge_296/1217883646iT629U.jpg

Comentários

Como já tinha referido um amor do IMAGINARIUM .... Podes fazer tudo isso e muito mais, porque um sentimento deste tamanho merece a realização de todos os actos possíveis e imaginários....
Essa fotografia que referes por ultimo também já a vi, e sabes o que reparei? A lâmpada nunca mais queimou! Conclusão irás iluminar a minha vida até sermos velhinhos ;) Amo-te
Em relação a todas as máquinas... Parabéns!! essa imaginação de género fantástico agrada-me imenso!