Enfermagem: a (des)valorização




O Dr. Manuel Pizarro, à data Secretário de Estado da Saúde, caracterizou os enfermeiros, numa mesa de um colóquio que tive oportunidade de presenciar, como a "espinha dorsal do Serviço Nacional de Saúde".
Não se trata de uma valorização excessiva, trata-se da realidade dado o papel do enfermeiro, a sua presença em número nos hospitais e ainda a mediação que pratica entre as várias disciplinas e respectivos técnicos que se cruzam nos cuidados de saúde.
Perante factos tão reveladores da preponderância da Enfermagem, o que levou esta ao descrédito, ao desemprego e ao estatuto social reduzido que hoje, por vezes, lhe conotam? A Lei da Oferta e da Procura.
Tempos houve em que os enfermeiros podiam escolher o local onde queriam iniciar a sua carreira, o número de empregos que desejavam acumular, o local para onde gostariam de mudar ao fim de alguns anos de experiência. Chegou a abertura de cursos em catadupa e eis que, a cada ano, são formados entre três a quatro mil enfermeiros, segundo referência de Germano Couto, o actual bastonário da Ordem.
E agora? Não podendo nem devendo tratar os enfermeiros como frutos ou cereais, destruídos por esse mundo fora em prol da competitividade dos preços, como resolver a questão? Queremos ser um país exportador de enfermeiros? Ou desejamos criar uma rede de cuidadores que potencie a qualidade dos cuidados a curto, médio e longo prazo?
Compensaria, por tudo isto, estancar totalmente a leccionação de Enfermagem?
Questões que se colocam, que se desejam ver resolvidas mas que, apesar de tudo, ainda não estão sequer na agenda nacional.
Se os enfermeiros são a espinha dorsal dos cuidados de saúde, então este país será aquele utente negligente que, desesperado com dores lombares, só recorre a cuidados especializados quando nem a cirurgia é solução. Antes disso, resolveu-se com panaceias e assobios para o ar...

Publicado no P3, suplemento online do jornal Público

Comentários