Sacrifício ao sol

Mais um dia de puro ócio, com uma perspectiva cultural sem par. As noites de poesia de quarta-feira, provadas por fotografia e ao sabor de textos de qualidade superior, no Olimpo, aquecem esta tarde mais do que o calor que se faz sentir.
É este calor e este mar que me observa desde o horizonte até beijar a areia que me fazem sentir que esta vida não tem igual. Também, é certo, não haverá mais nenhuma para nos fazer sentir algo do género.
Por estas razões, o valor que têm momentos destes, de descanso mental e extenuação física, porque o calor também cansa, acaba por nos valorizar enquanto pessoas. É verdade, tornam-nos pessoas diferentes, gente que vive, deixam-nos sentir o autodomínio dos nossos passos e fazem com que a necessidade de realização pessoal deixe de ser medida por méritos e esforços. Bastam o sol, o mar e tudo o que com eles se conota para que nos sintamos plenos.
E escrevo. Como não podia deixar de ser. Escrevo à velocidade que me permite o tempo que o sol me deixa, mas não se pode lamentar. Sem ele estaria, provavelmente, a escrever um poema negro ou uma prosa ressentida. O sol deixa que a escrita flua, leve, como a brisa que ele mesmo acaricia. Ou será que nós, seres conscientes e pensantes, acariciamos, por meio dele, aquilo que vale a pena? Alguns o farão, outro deixam a oportunidade perder-se... Contudo, o sol nasce também para esses e proporciona-lhes várias oportunidades, como se lhes chama-se a atenção para a premência que existe no usufruto deste ambiente.
Assim será, se tudo prosseguir segundo os cânones sazonais, durante os próximos meses. Eu cá estarei para, de férias ou não, me oferecer em sacrifício ao veranear próprio destes momentos. Tudo o resto, como sempre, virá por acréscimo.

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