A praia, o tempo e o outro tempo

Há neste tempo, o climático, algo de novo. Sempre novo a cada ano que surge. Há aquela saudade do calor que se faz sentir nesta esplanada onde escrevo. Onde vim, propositadamente, escrever. Há a renovada vontade de criar.
Mas não se chama inspiração. Por favor, não lhe dêem esse nome. Cansa-me que se ofereça sempre ao que é externo o mérito de algo que vem, invariavelmente, de dentro. Não é inspiração, trata-se de pura transpiração, trabalho, persistência, vontade e a força que dela advém...
Vejam o trabalho que dá acordar, almoçar, saber que as férias estão a ser óptimas e ter de fazer o esforço de sair, pegar no gadget que servirá de meio e optar pela esplanada que mais nos aprouver só para praticar o prazer maior de poder criar, de poder deixar estas palavras fluírem até vocês, que agora as lêem.
Imaginem que que o ócio, aquele outro de ficar em casa sem mais nem porquê, me assalta? Já não dá. Já aqui estou, a aproveitar o calor deste Março estranho e novo, novo a cada ano que surge.
Mas é difícil ser assim. É difícil saber observar, é difícil escolher a esplanada, é difícil saber porque palavra começar para deixar o resto de inveja em todos aqueles que agora estão a trabalhar. Esses que sabem que pelo tempo, o cronológico, perderão este tempo, o climático, para não mais o recuperar.
Rejubilem no pensamento de que tal me acontece amiúde. Mas hoje o tempo, este e o outro, são meus. Por isso, invejem-me. É um orgulho que me oferecem.

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