Viva o Carnaval, o Carnaval de Ovar!

Estou com tosse, alguns espirros e cansado. Talvez isto sirva para explicar que o Carnaval, apesar de ser brincadeira, também é sério e também mói.
Quinta-feira, vestido de Ku Klux Klan, fui recebido com incredulidade. Talvez o racismo levado ao extremo seja algo difícil de satirizar, mas soube-me bem sentir que o facto cumpria o seu propósito. Porém, os prazeres da noite estavam algo dificultados, pois a boca encontrava-se tapada e obrigou-me a uma ginástica inesperada.
Na sexta, um bispo. Abençoei metade das pessoas da rua, casei outras tantas e acabei por me divertir ainda mais, porque desta feita apenas a moral que o meu fato imprimia podia ser uma barreira. Não foi e, afinal, pode fazer-se de tudo quando se é bispo.
O sábado era um dia especial. Era nessa noite que começava a colaboração entre a Banda do Pirilau e Os Marados. Jantámos todos no Sobe e Desce e a noite começou no desfile das escolas de samba. Seguidamente, dirigimo-nos todos às escolas e ensaiámos o esquema dentro do pavilhão. Eu, com o cabelo azul e cara de palhaço pintada de negro, vestido com o meu kit de caloiro Pirilau fiquei designado para a movimentação das pernas do Tobias gigante, o boneco que o carro dos Marados transportava.
E assim se processou no primeiro desfile, no Domingo. De fato cinzento, sapato de verniz, óculos espelhados, cara pintada de branco e cabelo lambido para trás manobrei as pernas do boneco até me doerem os músculos. O prazer de estar ali, perante tanta gente, e sentir o calor vindo de todos os foliões e de todos os vareiros e de todos os visitantes e… Enfim, é algo muito difícil de descrever.
Nessa noite, jantei com a Sara no MG. Foi uma noite só para crónicos porque o desfile deixa muita gente em casa, mas o sol já raiava quando abandonei a minha segunda casa.
A segunda era dia de muito trabalho e, claro, a Banda do Pirilau empenhou-se. Conseguimos acabar o Jogo do Pirilau (uma máquina de tirar brinquedos como as que existem nos cafés) antes da hora do jantar e fomos de camião para a festa. Neste meu jantar de iniciação, o meu jantar de caloiro, houve tempo para cantar, para rir e para chorar (ou não fosse eu quem sou). E a festa durou, já no centro, até de manhã.
No dia seguinte, o último, novo desfile nos esperava, bem como a sopa e as bifanas da Nandita que tão bem sabiam para o estômago não se sentir desprotegido. Desfilamos e, desta feita, o som não falhou como no primeiro desfile. Correu tudo como estava planeado e a festa acabou em grande. Entre as palmas do público e o obrigado dos Marados, já nascia em mim a nostalgia de um Carnaval perto do fim.
Os Marados com a Banda do Pirilau não foram além de um 5º lugar na classificação. Mesmo assim, a festa foi grande e a diversão, aquilo que a todos mais apraz, foi atingida em grau elevado. Para o ano há mais Carnaval e, até lá, nas nossas cabeças ressoará o refrão que tantas vezes repetimos:
“Eu quero ouvir o público todo a cantar: viva o Carnaval, o Carnaval de Ovar. Eu quero ver os Marados todos a saltar nesta grande festa o Carnaval de Ovar!”

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