O rei do tempo

Em tempos longínquos, os desejos de todos os monarcas eram satisfeitos por pajens que, como que por intermédio de mágicos poderes, apareciam por detrás das cortinas com travessas de perdizes recheadas e porcos engordados para o efeito.
Não sendo eu monarca, tenho de lutar para ter aquilo que quero. E o que quero tenho, pelo menos por agora, pelo preço caro que é não ter tempo.
Levanto-me às 5.30, apanho o comboio das 6.25, chego a Aveiro as 7.13 e percorro a pé o caminho até o hospital durante vinte a vinte e cinco minutos. O calo que surgiu na planta do meu pé esquerdo transforma-se, por esta altura, num silício secreto que me lembra que o meu sofrimento tem uma razão válida. Ou várias.
Fardo-me e entro no serviço de Urgências do Hospital Infante D. Pedro a tempo do início da passagem de turno: às 8.00. Saio às 15, apanho um táxi para me levar ao comboio que parte às 15.19, chego às 16.06 a Valadares e parto para o Porto. Entro ao serviço da GameStop entre as 16.20 e as 16.30 e completo as minhas horas até um pouco depois das 24.00. Chegou a casa já na primeira hora do dia seguinte e durmo o tempo que posso… Dali a três horas e meia estarei acordado novamente.

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