Sul

Viajo para Lisboa á velocidade de um Intercidades. As paragens, boas para enquanto se dorme, são imensas para quem não se acompanha de livros nem tem as estações radiofónicas do Alfa. Eu trago três. Leio Dana Arnold, no seu A História da Arte e Avenida Paulista de João Pereira Coutinho, ambos saídos da irmandade estabelecida entre a Sábado e a Quasi, o meu prato principal e faço d’ O Ano de 1993 de Saramago a sobremesa poética. Anseio os Il Divo como penso nunca ter ansiado algum artista e talvez porque André Sardet chegou em hora de lamentos, os mesmo que agora quase ridicularizo. Enquanto isso, vejo o revisor e avalio-lhe o porte. Tem mais anos de carreira do que as caras de sempre do meu urbano ou, pelo menos, assim parece. E mostra que a idade lhe conferiu a sabedoria da melhor universidade que há, ao dizer a esta menina que agora entra em Alfarelos, com voz cândida, para colocar a mala grande no local que lhe é reservado, para não ir apertada. Fá-lo como um pedido, não uma ordem, colocando a tónica no conforto da passageira e não na obrigação. Ainda há revisores, afinal. Se lhe ler o nome, aponto.

20 de Junho de 2007


Escrevo agora em Lisboa. Atrás o Vasco da gama, à frente o Pavilhão Atlântico, o primeiro meu conhecido, este meu estranho de sempre. Hoje Lisboa sabe-me bem. Afinal, é a minha capital. E numas cores e num calor humano que nunca lhe tinha percebido. Ou talvez sim e o recordar é que dá a doçura ao reencontro.

20 de Junho de 2007


O palco tem honras de grandeza. Nem podia ser de outra forma. Carlos, David, Sebastien e Urs entrarão em palco daqui a menos de meia hora. Fico de lado em relação ao palco. Sujeito a centralidade pela proximidade. E não tenho ninguém à frente, a não ser a entrada. Daí que fique, também, sozinho nesta fila. O corrimão que nos protege do perigo da queda é também o mesmo que tapa a visibilidade aos ses lugares. Menos este. Mas é meu.

20 de Junho de 2007


Está quase a começar. Sinto aquele nervoso miudinho próprio dos grandes eventos. Agrada-me. Neste lugar até posso esticar as pernas ou cruzá-las à vontade. Dá, principalmente, para fazer uso da minha individualidade sentimental, enquanto aprecio este concerto fenomenal, certamente.

20 de Junho de 2007


Não durou o tempo suficiente (duas horas é pouco). Não cantaram Hasta Mi Final e The Man You Love de que tanto gosto. Assinaram centenas de papéis que não eram meus (eu estava longe). Foi mau? De forma alguma! Foi um dos melhores a que já assisti e um daqueles que nos faz apreciar quem se exibe ainda mais. O som do Pavilhão Atlântico fez estragos uma vez, misturando as quatro vozes, mas é um bom palco. Não um palco óptimo. Mas também não é mau, como muitos afiançaram. Bem, ficam as recordações e as músicas para a elas regressar, sempre.
Ah! Na entrada houve lágrimas. As de sempre, as da praxe, como não podia deixar de ser.

21 de Junho de 2007


Entro no comboio. Sinto o meu périplo lisboeta terminar. E o setubalense, ainda menor, também. Recordo os Il Divo e sinto o pulsar da promessa de regresso no ano que vem. Será? Esperemos . Pelo menos por agora fico-me pela expulsão de uma passageira que ocupava o meu lugar.

21 de Junho de 2007

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