O fim da história

A história tornar-se-ia imperceptível se, pelo acaso, eu não tivesse a felicidade de receber um flash, quase como um sussurro divino, daqueles bem ao estilo das séries americanas, daqueles que deixam o Dr. House especado a olhar em frente com um olhar deliciado e a roçar a lascívia. Bem, talvez não tenha sido bem assim. Talvez tenha sido uma questão não tão esotérica e muito mais prática. Quem vê, ouve e sente, sabe. Quem sabe, percebe os finais das histórias. Finais ou intermédios, tanto faz. O futuro que fale mais tarde; eu prefiro falar agora.
Pensam os que nos vêem de fora que o fardo que carregamos, como escritores, é leve e que só trás benefícios. É certo que não o trocava, mas nem tudo cheira a rosas, quanto mais ter a sua forma. E, perceba-se, há muitas formas de fazer as coisas. Pena que muito poucos percepcionem isso.Tentar controlar o ímpeto de escrever é difícil, apartar-nos das personagens é complicado, mas nada é mais incontrolável do que o curso das emoções de um escritor, qual rio repleto de rápidos e curvas sinuosas. Não vendia este rio por nada deste mundo, mas é algo que dá trabalho manter. E manter é uma palavra extremamente fascinante. Pena, de novo, que muito poucos a saibam dizer. Ou melhor, praticar.
Gabriel, o Pensador diz, através de um dos seus álbuns: “Seja você mesmo, mas não seja sempre o mesmo”. Todos mudam, eu mudo. Mas mudar um rumo que se toma de forma veemente é, no mínimo, estranho. Ou talvez não seja. Houve um sussurro divino ou algo bem menos esotérico que me disse que não. Agora percebo o final de toda a história. E, no fim, mesmo não sendo apologista do derrotismo, mesmo achando que o cor-de-rosa ganha ao negro, tudo me parece da mesma cor. E eu, que nunca gostei da unanimidade, por achá-la despida de diferença, irrito-me por ter escorregado. Sim, escorregado. Porque fazer-me cair é difícil, agora que percebo o fim da história.

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