Grandes olhos têm as barrigas pequenas

Já o afirmei várias vezes: um blog é um local tão independente que se torna aliciante escrever nele por si só. Havendo razão específica para o fazer ou não. Mas, porventura, é necessário existirem razões para se escrever? E é sobre isto que hoje quero falar.
Na literatura há dois tipos de leitores: os que vibram tanto com a leitura que aceitam as coisas tal como elas são, criticam construtivamente e esperam dos autores uma produção que lhes agrade e os leitores que pensam vibrar correctamente com a leitura, mas cingem-se a criticar – seja ou não de forma construtiva – e esperam que o autor faça algo que lhes permita dizer «podia ter sido melhor». Estes são aqueles que não percebem o intuito final, o cerne da literatura. São estes que fazem desta arte uma dança de lombadas, onde quem tem mais autores premiados nas prateleiras ganha, mesmo que para isso não precise de os ler. São ainda aqueles que pensam que podem fazer melhor, mas apenas quando «tiverem tempo de se dedicar» ou, então, «quando um dia se lembrarem de editar um livro». De boas intenções…
Este é um problema de fundo, um problema que todos aqueles que se encontram por fora do mundo literário podem percepcionar facilmente. Talvez não queiram, talvez seja difícil ter de reconhecer. A tacanhez, afinal, paira em muitas cabeças, o que torna fácil o encontro com alguém destas características. Para aqueles cuja crítica é totalmente desprovida de valor, cujas mentes enlameadas exalam apenas o cheiro sulfúrico da inveja, aqueles que acreditam que o que é bom tem de ter sempre as mesmas características e não dão o benefício da dúvida, para quem os bons livros são grandes, grossos, profundos, complexos e o que é pequeno, simples e fácil deixa de ser bonito deixo dois exemplos: Antoine de Saint-Exupèry e David Mourão-Ferreira. Um legou-nos uma das obras mais completas e bonitas de toda a história literária, ou não fosse O Príncipezinho um hino à boa obra. O outro deixou-nos palavras de amor, tantas vezes descuradas por outros por serem tão sentimentais, mas que encerram a verdade do sentimento que inexoravelmente nos apanha a todos:

São de nada tempestades
Ante a falta que me fazes

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