A proximidade do afastamento

O valor que damos às pessoas é, como diz Chateaubriand no início da página, por outras palavras, constantemente postergado para a altura em que nos vemos na iminência de as ter longe de nós. E assim será sempre, a não ser que tenhamos essa consciência e tenhamos bem presente que tal acontece porque simplesmente cedemos espaço ao facilitismo. «Estás aí, logo não tenho de te procurar» é talvez a frase mais dita pelo nosso inconsciente, o id de Freud, por esta altura. Afinal, se nos dói quando o tempo do afastamento se aproxima, mesmo que depois se volte a afastar e tudo permaneça no caminho que desejamos, estamos a deixar que esse inconsciente nos domine. Se bem que haja certas alturas em que devemos ser dominados por ele, se ele estiver bem treinado ao ponto de satisfazer necessidades que não teríamos capacidade de suprir de outra forma.

Tudo isto para dizer, unicamente, que não podemos fechar os olhos ao passado, o passado em que este domínio atroz do facilitismo nos levou a passar por cima de tantos outros pormenores, como sejam os esforços dos outros para nos agradar. E passando por cima disso, estamos a deixar para trás um mundo imenso de satisfação e realização pessoal que não queríamos, à partida, perder. E perdemos. Há, então, que voltar para trás, recolher esses pedaços de prazer perdidos no tempo se possível for e refazer a noção de proximidade, porque se nós precisamos dos outros, eles também precisam de nós.

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