Um adeus agradecido, com amor

Foi na noite de segunda, começava ainda o dia 4 de Março de 2013, quando recebi a notícia já esperada. O meu pai, teu filho, lá estava ao teu lado e à espera que eu chegasse para o teu último banho que fiz questão de te dar.
A imagem, apesar de ter pouco tempo, é simultaneamente forte e turva. Segundo quem viu, lavei-te com água e com as minhas lágrimas, irmãs destas que agora afloram por te escrever isto.
Desculpa-me se o faço de uma forma tão pública a alguém como tu, tão cioso da sua privacidade e autonomia, mas o teu funeral mostrou-me que o teu nome era imensamente querido. As flores que te cobrem não deixam sequer ver a pedra tumular.
Sabes do que terei saudades? Além do mimo, dos carinhos e dos momentos que passamos juntos em amena convivência entre avô e neto, sentirei falta até dos momentos em que me irritavas um pouco resmungando sobre a minha barba, criticando as minhas saídas nocturnas, comparando a minha loucura com a tua idoneidade...
Agora que temos as tuas memórias para ler, onde estão reveladas algumas das tuas próprias aventuras loucas, é mais fácil perceber que essa era a tua forma de dar atenção.
Lembrar-me-ei sempre das nossas viagens com os Simples, dos vários "cinco de outubro" em que anunciavas que eu fazia anos no mesmo dia que o grupo, das papas de sarrabulho que eles avidamente comiam e nós evitávamos, das intermináveis horas matinais dos teus cuidados que me iam despertando lentamente...
Poderia escrever uma imensidão de palavras para aliar a estas, pois essa é a melhor forma que tenho de sentir que me liberto dos momentos menos felizes; mostro-as a quem as quiser ler, porque essa é a forma de me sentir aconchegado, quando me lêem. E tudo isto será pouco...
Não te preocupes com as últimas imagens que nos deixaste. A tua verdadeira imagem durou mais de oitenta e cinco anos.
Não te preocupes com a morte, pois só morre quem é esquecido e pude constatar que nunca o serás naquela freguesia, muito menos por nós, que tanto te amamos.
Não te preocupes com o teu nome. Não só o deixaste limpo como o fizeste brilhar e nós sentimos orgulho por poder tê-lo como nosso.
Não te preocupes connosco. Ficamos mais pobres sem ti, mas seremos sempre enriquecidos pelo prazer de te ter tido.
E agora, tu que sempre foste um homem preocupado com a família e outros afazeres, que sempre foste trabalhador e metódico, que sempre foste um patriarca esmerado e um homem de cultura e da cultura, descansa.
Um beijo enorme do teu neto que te chora, mas que sorri por ter aprendido contigo e sentido o teu amor, e que te amará sempre.
Obrigado, vuvu.



Comentários

Aqueles que amamos nunca morrem.... Texto muito lindo! <3<3
Estarei sempre aqui para ti ;) Amo-te imensamente :D