O Fernando chora sempre duas vezes

É esta a melhor versão do carteiro de Pablo Neruda. A melhor versão que não seria possível sem um grupo de pessoas que decidi denominar por A Família do MG.
Tudo começou dia 30 com o Fernando a comunicar aos seus pais que voltaria dia 1. Na verdade, só voltou dia 3. Partiu dia 30 com parte da Família MG para terras que até o diabo esqueceu, mais especificamente Gogim no concelho de Armamar.
A partida foi conturbada, porque alguns membros decidiram começar o aquecimento no João Gomes e a viagem foi perturbada pelo nevoeiro intenso. Chegados à Quinta das Infestas começou a preparação da noite que aí vinha. Todos prometeram que “seria calminho” e eis que a noite nos levou à pizzaria onde o marketing do Ral e os seus conhecimentos com quem “vende ferro” lhe valeram uma mini de borla. Vestidos como o Catita dos anos 40, quando ainda ia às maçãs, tivemos tempo de dar cabo do juízo à D. Fátima, ao Tó Zé e ainda jogámos dados. Em casa jogámos o poker que consumou a verdade da noite: foi deveras calminho…
No dia seguinte há que ir às compras por volta das duas, porque o China assim determinou com voz de comandante. As compras foram efectuadas, a limpeza da casa cumprida e depois começou a festa sempre ao sabor do feijão, que é o ingrediente preferido do Mário. Estava a corja na festa do “rabo duro”, tudo a mostrar a fisga improvisada, quando chega o resto da comandita. Uma grande farda, quer dizer, farra, se anunciava e a Rita, cheia de vontade, agarrou-se ao micro e dominou o karaoke da noite, deixando o seu Ruca abandonado às fêveras. A Luísa, mal sabendo o que a esperava, deu graças a Deus de não ter chegado antes, porque o Fernando fez questão de lhe dizer que, no dia anterior, “era só gajos de pau feito”. Mais tarde lamentaria ter-se deitado tão cedo… Na noite de réveillon, que começou com o Nando a chorar ao som do Cid, gostaria de me lembrar de mais coisas mas só me lembro do Zão, Zão, Zão, dá-me te Zão…
Até a música da botella ficou descaracterizada ao som deste novo hit.
O Pinto, que até aí se tinha limitado a ficar em segundo no póker e a guardar “o lugar de maior broa” decidiu fazer asneiras e virar o barco, quer dizer, um prato de comida nas escadas. O Ral completou o quadro com um ossito que viria a dar controvérsia, mas já nessa altura o Pinto optava por repetir a dose entre um casaco de pêlo e o saco do Intermarché. “Ó Ral ou era o casaco ou o saco”, diria o Zão mais tarde, remetendo o Ral à sua pequenez, ao passo que o Rato se congratulava por ninguém lhe ter estragado os sacos do Intermarché.
A noite acabava e o Paulinho tinha conseguido manter o seu low profile, muito embora tivesse mostrado o seu pêlo do peito repetidas vezes. O Saramago, com a fome que Deus nos fez partilhar e fazendo jus ao seu ímpeto naturalista, vagueava com as suas calças de cabedal, fetiche mais do que conhecido do Kata, que nada fez.
A distribuição de camas teria sido complicada com tanta gente, principalmente por a Vanessa ter medo de “aganhas”. Ficou na sala e mesmo assim a coisa estava complicada quando dois homens, quais salvadores da malta, se decidiram a dar o corpo ao manifesto: o Resende foi dormir para a geada e o Piroca mandou a Luisa chegar-se para lá porque aquilo “tinha de dar para todos”. A verdade é que não pintou nadinha a não ser um beijo do Saramago e uma lambidela do Merêncio no crucifixo. Enquanto isso a Nancy trazia até nós o seu registo mais feminino possível arrotando dez decibéis acima de qualquer um. Já o Seven discutia com o Rato e com o Ral, expelindo pequenas frases em crioulo como que a pedir que não lhe gritassem “Ó Miguel”.
A noite, para mim, terminou bem. Dormi com um Ratinho quentinho e quietinho a quem já tinha beijado e adormeci ao som da voz do Ral, que dizia: “que o melhor de 2009 seja o pior de 2010”. No entanto, transpirei muito com um pesadelo onde se via a irmã Lúcia atrás do Piroca e o Zão a jogar basket em pano de fundo.
O dia seguinte era dia de regresso, mas o muro tinha caído. O MG não podia esperar e a maioria da malta foi embora. Ficaram o Ruca e a Rita, acelerados por uma noite que durou até às quatro da tarde, e uma Luísa irreconhecível que até já falava. O Piroca manteve a sua mão escondida, hábito que o Fernando tentou adquirir e que o Saramago há tanto tempo vinha a praticar. Nessa noite, também calminha, o bagaço animou o vinho, o poker fê-lo a nós e a estadia terminou em grande com o Pinto, o Nando, o Piroca e o Saramago a romper o stock de chouriças do Catita. O Merêncio, por esta altura já amarelo, recusou comer e preferiu dormir mais um bocadinho, pois no dia seguinte teria de se levantar muito cedo (entenda-se por volta da uma, estando todos já a pé) para voltar a sujar o quarto-de-banho de que a Rita tinha tratado.
Terminou assim? Não! Com a vontade que onze homens na mesma casa lhe deram, o Fernando foi visitar a Sara, jantar a casa do Merêncio, cantar os Reis com o Pirilau e acabou, outra vez, a chorar no MG (de onde saiu já de manhã) … Tudo isto podia ser assim sem a Família MG? Podia, mas não era a mesma coisa!

5/01/2010

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